Quem vai aproveitar a crise no PS e na Câmara de Vizela?

Opinião de Carlos Alberto Costa, prof.
(...) " Em 2013, Dinis Costa anunciava que, caso vencesse as eleições, ia pendurar as botas e Víctor Hugo Salgado que, nunca escondeu a sua grande ambição de ser presidente da Câmara de Vizela, esperava por isso poder vir a emergir como o candidato socialista à presidência da Câmara de Vizela nas eleições autárquicas de 2017." (...)



“Caso seja eleito, não estou disposto a mais, há que dar lugar a outros”.
Foi com esta frase, incluída numa peça jornalística assinada por Ângela Fernandes, no RVJornal de 18 de Abril de 2013, intitulada “Dinis Costa garante que esta será a última vez que se candidata à Câmara Municipal de Vizela”, que Dinis Costa esclareceu que, vencendo as eleições (autárquicas de 2013), esse seria o seu último mandato. Se cumprisse o que prometeu a todos os vizelenses, Dinis Costa não seria, portanto, o candidato do PS à presidência da Câmara Municipal de Vizela, em 2017.

Do mesmo modo, havia uma espécie de “acordo de cavalheiros” celebrado entre os principais candidatos socialistas, em 2013, que, se fosse cumprido, Víctor Hugo Salgado seria hoje Presidente da Câmara de Vizela e Dinis Costa Deputado à Assembleia da República.
Acreditando que “palavra dada tem de ser palavra honrada”, Víctor Hugo Salgado trabalhou afincadamente na última campanha autárquica e se não fosse o seu empenho bem como a lista atípica e a campanha desastrosa da Coligação, Dinis Costa teria sido estrondosamente apeado do poder.
Estou certo que a sua esperança cedo se desvaneceu. Ainda, no início do mandato, Víctor Hugo Salgado percebeu que não ia ter a vida fácil. As nomeações a dedo dos quatro membros do aparelho socialista para os gabinetes de apoio ao presidente e aos vereadores, a tentativa do presidente de atribuir pelouros ao líder da Coligação e, mais recentemente, a indicação do filho do presidente para candidato a deputado por Braga são a prova de que Dinis Costa tinha mudado de ideias e estava a puxar o tapete ao vereador.
Víctor Hugo Salgado nunca se desmanchou e, como afirmou recentemente, “esteve sempre com o senhor presidente e votou sempre
as decisões deste Executivo quer nas reuniões de Câmara, quer nas Assembleias Municipais, mesmo quando não tinha pelouros”.
Mas, face ao rumo dos acontecimentos, Víctor Hugo Salgado não podia nem devia esperar mais. Assim, não é de estranhar a pressa de, a dezoito meses das eleições, solicitar uma reunião extraordinária da Comissão Política da Concelhia de Vizela do PS para indicar, por voto secreto, o candidato que nas próximas eleições autárquicas vai liderar a candidatura socialista no concelho de Vizela.
Dinis Costa ganhou por quatro votos, mas “quem ganha por poucochinho, só pode fazer poucochinho”. E, em menos de vinte e quatro horas, vimos como Dinis Costa não soube ser grande na vitória. Faltou-lhe a coragem para anunciar na reunião do executivo municipal a exoneração do vereador. Se ainda nem vinte e quatro horas tinham passado, não se pode acusar Víctor Hugo Salgado de estar a fazer finca-pé para se manter no cargo. Por isso, demiti-lo em direto no briefing com os jornalistas no final da reunião camarária foi um ato de pura covardia política.

Estou em crer que Víctor Hugo Salgado não vai entrar num exercício de vitimização deprimente e patética como querem alguns dos seus apoiantes. Ao dizer “Vizela e os vizelenses podem contar comigo” Víctor Hugo Salgado afirma continuar vivo para a política e disponível para futuros combates. Não se espere, por isso, que se demita do partido e de vereador ou que passe à oposição para apresentar uma candidatura independente à Câmara Municipal de Vizela. O PS nacional não o vai deixar cair e não tardará a oferecer-lhe um “job for the boy” para continuar a sua carreira política.
Com um partido dividido e fragilizado, Dinis Costa, para sobreviver politicamente, procurará plataformas de diálogo à sua esquerda para alianças pós-eleitorais ou mesmo pré-eleitorais, pelo que não são de esperar quaisquer ataques políticos do PCP ou BE como se constatou no último “antena democrática” da Rádio Vizela.

Quanto à Coligação PSD/CDS não basta dizer “tem de haver consequências”, como afirmou o seu líder no referido programa. Quando um partido (ou coligação) que é uma alternativa ao governo local não passa à ofensiva perde sempre. Se outras razões não existissem, esta grave divisão no executivo municipal socialista chegaria para justificar uma moção de censura ao executivo do PS. Ainda que uma moção de censura autárquica tenha apenas efeitos políticos, pois não determina a queda do executivo camarário, a sua apresentação e discussão é uma oportunidade de olhar para os 18 anos do concelho e de verificar se os deputados municipais do PS estão ou não ao lado de Dinis Costa. A verdade é que hoje, o contacto com a população vizelense permite-nos constatar que a maioria dos cidadãos manifesta uma opinião claramente negativa sobre a governação de Dinis Costa. Os erros sucedem-se, a incompetência alastra, a falta de rumo é visível e quem sofre as consequências são Vizela e os vizelenses.

“Neste mundo, são aqueles que aproveitam a oportunidade, que têm as oportunidades”.
Nota: Qualquer semelhança com o que Víctor Hugo Salgado possa dizer na conferência de imprensa que convocou para terça-feira é pura coincidência, já que terminei e enviei esta crónica antes de a mesma se iniciar.
Vizela, 10 de maio de 2016

Partilhar