"Valeu a Pena"

OPINIÃO de Manuel Mendes Marques
 "Evoca-se hoje o dia em que a Assembleia da República votou (na generalidade) o concelho de Vizela com nove freguesias que pouco tempo depois, e após vergonhosas manobras reacionárias perpetradas por quem nunca entendeu a Democracia, deixou cair na votação da Especialidade para todo o sempre as freguesias de Santa Comba de Regilde e Santo Estêvão de Barrosas do projeto de lei aprovado com enorme júbilo naquela que foi a maior vitória autárquica de sempre registada em Portugal.


Hoje não restam dúvidas que foi um erro de lesa-Pátria para as próprias ter sonegado essas duas freguesias do concelho que acabava de nascer.

Para trás do 19 Março de 1998 ficava uma luta que encantou o mundo.
Vizela era tão pobre ao nível dos seus rendimentos autárquicos que que nem dinheiro houve para se fazer uma festinha condigna em casa no 19 de março de há 19 anos atrás. Nem luz que se visse havia na rua para iluminar a noite mais bela de sempre.

Nunca ninguém me ouvirá dizer ou sequer duvidar que estávamos melhor ontem do que hoje. Porque isso seria falso e traição.
Com esta autonomia própria, estamos francamente melhor. Gerimos o que é nosso. Decidimos. Somos nós!

Aqueles que lamentam as dificuldades de hoje nunca conheceram (ou já esqueceram) as de ontem antes do 19 março de 98.

Vizela e suas freguesias têm hoje um local próprio para reivindicar, para se fazer ouvir, para exercer que não tinham antigamente perdidas num mar de 73 freguesias dum concelho ingovernável.

As associações, baluarte de qualquer sociedade, brotaram em Vizela como cogumelos em todas as áreas. Seria isto possível sem uma autarquia Municipal própria? Nunca.

Foi pena (ou trágico) que o concelho de Vizela não tivesse sido criado quando emergiu a luta de rua em 1980. Os fundos da CEE, repartidos por todo o País, teriam dotado todo o concelho das condições que ainda hoje reclamamos.  
Vizela deveria processar o Estado por esse crime autárquico. Adiar representou estagnar.

É verdade que antes de eclodir esse vulcão do Povo vizelense na rua já existia o Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela com bastante trabalho mas a luta do Povo foi um factor primordial para um desfecho épico, romanceado e vitorioso.

Dessa luta, para além dos relatos jornalísticos de então e das memórias que Manuel Campelos e Maria José Pacheco publicaram em livro; das fotos que ainda hoje correm mundo e das imagens que o único canal de televisão (RTP) gravou, nunca foi, essa brilhante historia, nem nunca será escrita tal e qual com a fidelidade que merecia.

Os anos passaram velozes e hoje em dia há pessoas que dizem ter lutado sem nunca terem mexido uma palha; há relatos completamente distorcidos do que efetivamente se viveu em tantos pormenores dessa luta e há movimentações que não podem ser reveladas porquanto não "prescreveram" ainda. Nem prescrevem.

Pela minha parte, e tal como centenas de vizelenses, fiz o que podia e muitas vezes o que não devia mas quando se trata duma luta as questões éticas tem de ser muitas vezes olvidadas. Não foi correto levantar os carris e não foi correto tomar outras ações? Não. Não foi correto mas foi necessário.


Convém que a História não esqueça que vivíamos num 
País atolado de corruptos que envergonhavam um Parlamento 
eleito pelo Povo e para defender o Povo! Falsidades.

Aqueles que lutam pelo bem comum não reivindicam agradecimentos. O dever de cada cidadão é lutar pelo bem do seu Povo e da sua terra.

Por isso o dia de hoje deve ser vivido como um dia de festa. Em honra dos que lutaram por Vizela, dos que lutam e dos que lutarão.

Fruto de ser um concelho pequeno, Vizela ainda hoje regista momentos de efervescência política que fogem um pouco à norma da maioria dos concelhos.
Mas também isso faz parte da liberdade que todos escolhemos.
Sigamos em frente.

Em ano de eleições autárquicas a melhor prenda que este Município pode receber neste dia de aniversário é a garantia da entrada de novos jovens na corrida eleitoral coadjuvados pela experiência dos autarcas mais velhos. Em todos os partidos e noutras forças concorrentes e fundamental que os jovens não fiquem de fora.
É imperioso sensibilizar a juventude que a arte de se fazer política tem o seu lado nobre. É preciso desmistificar a ideia que a política autárquica é nociva e que serve apenas para ganhar dinheiro maldito. Não é. 

O exercício da vida autárquica é o complemento da luta que traçamos outrora na rua.
Não fazia sentido criar um concelho com tantas batalhas e não ter quem o gerisse no futuro.
O concelho de Vizela veio para ficar. Pela eternidade.
Parabéns a Vizela e parabéns aos vizelenses: aos vivos e aos que já morreram com o orgulho de terem sido vizelenses.

NE - Porque julgo ser mais importante a minha presença no apoio ao FC Vizela, estarei em Vila Nova de Gaia esta manhã no Porto B - Vizela. Por essa razão não participo nas cerimónias matinais do 19 de março deixando entretanto os meus parabéns aos justos homenageados de hoje, a Dra Maria do Resgate, à Rádio Vizela da qual sou cofundador, o seu primeiro profissional e diretor de programas em quase todas as direções e ao padre Adelino Rosas que me casou com bençãos de ouro a 23 de agosto de 1986.
Parabéns a todos.






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