"Uma inundação na Lameira há 157 anos"


Texto e pesquisa de António Cunha

Jornal “religião e Pátria” de 08 de junho de 1864.

Nas Caldas de Vizella, segundo nos informam, causou a trovoada um verdadeiro dilúvio, que produziu grandes estragos. A alameda (hoje denominada Praça da República) foi invadida por um grande volume d´agoa que trazia o regato que lhe passa por baixo, e não só esta, como os banhos, lojas e casas térreas próximas à Lameira, foram transformados n´um grande e imenso mar. Deverá de der um terrível espectáculo aquelle em que se viam casas alluindo-se, moinhos despparecendo na impetuosíssima corrente que traziam as águas, gente gritando e correndo desordenada e horrorizada, e finalmente um espaço de cerca de uma légoa tudo inundado e obstruído! Os banhos ficaram cheios de terra e chuva em grande altura, e algumas famílias de banhistas ficaram sem nada do que lá tinham. Os prejuízos são muito consideráveis, especialmente para os lavradores, a alguns dos quais a inundação levou as sementeiras e terras dos campos, obstruindo-os de areia. A estrada entre esta cidade e aquellas Caldas ficou de todo intransitável, e informam-nos que a ponte ainda há pouco construída n´esta estrada soffrera grandes avarias”.

HOJE QUAL A SOLUÇÃO?


Uma das soluções para evitar estas constantes inundações, passaria pela construção de uma bacia de retenção no Ribeiro de Passos, a montante da Lameira. Obviamente que seria necessário realizar um estudo para definir o melhor local para a sua construção. 

No entanto, a zona entre a estação de caminho de ferro e a igreja de S. Miguel, seria solução mais fiável e imediata pois é local mais próximo da lameira, onde ainda não existem construções. 

O que aconteceu em 1864, teria certamente repercussões bem mais graves nos dias de hoje. Em 1864 a zona envolvente à Lameira era constituída em grande parte por campos agrícolas que por si só tinham a capacidade de absorver grandes quantidades de água. Nos nossos dias, o nível de impermeabilização do solo é elevado. 

Umas cheias desta natureza, causaria prejuízos elevadíssimos no coração de Vizela.


A Bacia de retenção 

de Guimarães

O recurso à engenharia natural na construção das bacias teve como principal objetivo o melhoramento e a manutenção da função hidráulica da Ribeira da Costa, constituindo uma solução para evitar cheias com a criação de três bacias de retenção, com a função de redução do caudal e velocidade das águas da Ribeira de Couros, diminuindo, desta forma, a possibilidade de inundações da zona baixa da cidade.

 Com esta obra, a Câmara Municipal de Guimarães privilegiou a preservação e valorização de espaços verdes, que se encontram enquadrados na cidade, favorecendo a sustentabilidade e a biodiversidade do sistema natural, criando corredores ecológicos fluviais, além de aumentar o grau de utilização pública destas áreas naturais, criando lugares de interface entre as vivências sociais e os espaços ribeirinhos.

 A Ribeira da Costa/Couros é um dos afluentes do Rio Selho. Nasce na montanha da Penha e atravessa a cidade de Guimarães, abrangendo diversas zonas desde o Parque da Cidade, Parque das Hortas, zona de Couros, Mercado Municipal/Alameda Mariano Felgueiras até desaguar no Rio Selho, na Veiga de Creixomil, numa extensão de aproximadamente 6.2 km, alternando entre locais em que o escoamento é feito em superfície livre com zonas em que é canalizado. A correspondente área da bacia hidrográfica tem cerca de 11.23 km2.

DE 2015 a 2020, a bacia de retenção evitou 52 inundações da zona baixa da cidade. 

Esta Solução de engenharia natural deu uma vida nova aos comerciantes e moradores da zona de Couros. Até o ministro do Ambiente da China quer replicar o projeto.


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