Carlos Garcia sai empurrado pelo "ciclone" dos Açores


Treinador vizelense não tinha mais espaço para falhar. A sua saída já poderia ter acontecido na jornada anterior à goleada dos Açores caso o Vizela não vencesse a União de Leiria no último minuto. Direcção entende que este plantel pode render muito mais e recorreu a uma arma que sempre assumiu que não utilizaria: a «chicotada psicológica». Depois de ter despedido os adjuntos de Carlos Garcia (58 anos), foi agora a vez do treinador principal. Toni (ex-treinador do Trofense e ex-jogador do FC Vizela) é dos nomes mais falados na praça (da República), mas nada há de concreto. Pelo menos que seja público.


UM CICLO DE CINCO ANOS QUE SE FECHA
Carlos Garcia deixou de ter condições para trabalhar com um plantel que o próprio sempre assumiu ter sido escolhido por si (embora haja quem contradiga isto).
A sua saída não causou grande surpresa porquanto até o menos entendidos na matéria estariam à espera que tal acontecesse a todo o momento em função de um caudal de maus resultados no pior início de época de sempre do FC Vizela nas suas quatro participações na Liga. Depois do Clube ter formado um plantel caríssimo, com opções variadas para todos os sectores (como foi reconhecido pelo treinador), era de prever que mais jogo menos jogo, o «chicote» estalaria.

Há três semanas, Carlos Garcia acusou os adeptos que o criticavam de terem falta de memória (subiu o Vizela à Liga de Honra e na época passada ficou a um ponto da subida à I Divisão), mas, todos sabem, no futebol a memória não conta para nada se os resultados não ajudarem.

A goleada por 5-1 nos Açores, terá sido a gota que fez transbordar o copo. E se é verdade que Garcia tinha este domingo um jogo teoricamente fácil diante do Gondomar, também não deixa de ser verdade que o ambiente na bancada, nas suas costas, seria pouco amistoso e poderia logo ali empurrar a Direcção para a posição que agora tomou: despedir o técnico.


OS CONTRAS DE CARLOS GARCIA

1 - O Vizela começou muito mal o campeonato com três derrotas consecutivas - Boavista, Aves, Olhanense - mais uma para a Taça da Liga na Amadora o que totaliza quatro jogos seguidos sem vencer. Para quem assumiu a subida de divisão...
2 - Garcia manteve durante vários meses no seio do grupo de trabalho dois treinadores adjuntos que não falavam entre si. Foram despedidos. Havia quem defendesse que Carlos Garcia, que pactuou (ou encobriu) esta situação nefasta para o balneário, deveria ter acompanhado os seus adjuntos na saída do Vizela.
3 - Nunca teve junto de si um verdadeiro treinador-adjunto de campo com quem se pudesse aconselhar em caso de dúvida sobre tácticas de jogo. Um treinador de guarda-redes e um preparador físico não garantem esse apoio.
4 - Os adeptos acusavam-no de ser demasiado defensivo nos jogos em casa.
5 - Os adeptos não gostavam da sua "passividade" no banco. Os adeptos do Vizela preferem um treinador enérgico no banco, que grite com os jogadores, que gesticule, tipo Álvaro Magalhães ou Henrique Nunes, a um treinador "passivo".

OS PRÓS DE CARLOS GARCIA
1 - É pessoa séria e profissional.
2 - Goza de grande prestígio no seio do futebol luso, mantendo excelentes relações com dirigentes, atletas, treinadores e jornalistas locais ou nacionais.
3 - Subiu o Vizela à Liga de Honra e esteve a um ponto da subida à Liga principal na época passada (embora os seus detractores o acusem de ter culpas da não subida do Vizela).

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PAULO PINHEIRO NÃO COMENTA
GARCIA DESLIGOU O TELEFONE À RÁDIO VIZELA

A Rádio Vizela, por intermédio da jornalista Zélia Fernandes, tentou ontem ouvir uma reacção de Paulo Pinheiro à despedida de Carlos Garcia, mas o Presidente do Clube remeteu toda a resposta para o comunicado do Vizela publicado no site do Clube. Como se pode ler, trata-se de um comunicado vago e que cria inúmeras dúvidas, para as quais, para já, não há quem responda.

A Rádio Vizela também tentou ouvir o treinador, mas Carlos Garcia desligou o telefone, algo que aconteceu pela primeira vez desde que chegou a Vizela há cinco anos pela mão do ex-presidente Alberto Sousa. Garcia esteve sempre disponível para falar aos jornalistas, mesmo nas situações mais delicadas. Esta foi a primeira em que não esteve igual a si próprio.

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O COMUNICADO DO FUTEBOL CLUBE DE VIZELA

Alterações no comando técnico da equipa sénior
Carlos Garcia deixou de ser o treinador do FC de Vizela

Hoje, em reunião mantida entre a Direcção e o treinador Carlos Garcia, as partes decidiram pôr termo à ligação profissional do técnico com o FC de Vizela.

De comum acordo e tendo em vista a defesa dos interesses do clube entendeu-se que esta seria, face ao actual estado das coisas, a melhor decisão.

Esta resolução foi comunicada ao grupo de trabalho antes do início do treino. Entretanto os treinadores adjuntos, Fernando Baptista e Prof. Zé Alberto, orientaram a sessão de trabalho que se seguiu. Esta foi a solução encontrada para dirigir interinamente a equipa até que a Direcção encontre o sucessor de Carlos Garcia.
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O QUE DIZ HOJE O JORNAL DESPORTIVO "O JOGO"
"Carlos Garcia rescindiu
JOSÉ LOPES

Carlos Garcia já não é o treinador do Vizela. A decisão foi tomada de forma amigável durante uma reunião entre o técnico e a Direcção do clube, liderada por Paulo Pinheiro, realizada ontem de manhã, antes do primeiro treino da semana, e comunicada de seguida aos jogadores. Os adjuntos Fernando Baptista e Zé Alberto assumiram de imediato o comando técnico, uma solução provisória até que os responsáveis vizelenses encontrem uma alternativa, o que se espera venha a acontecer nos próximos dias. Em Vizela desde a época 2004/05, Carlos Garcia esteve a um pequeno passo de subir a equipa à I Liga na temporada transacta, numa luta directa com o Rio Ave que só terminou na última jornada. Por isso, as expectativas para a nova época eram altas, mas os resultados acabaram por comprometer os objectivos. À nona jornada, o Vizela ocupa o antepenúltimo lugar da classificação e, na ronda passada, foi goleado nos Açores, pelo Santa Clara, por 5-1."
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O QUE PUBLICA O JORNAL "RECORD"

"Supercandidato troca de técnico
CARLOS GARCIA CESSA LIGAÇÃO DE QUATRO ANOS E MEIO

A goleada sofrida no terreno do Santa Clara (5-1) marcou o derradeiro jogo de Carlos Garcia no comando técnico do Vizela. O treinador rescindiu ontem contrato, por mútuo acordo, com o clube com quem mantinha uma ligação de quatro épocas e meia, interrompidas apenas por uma saída para o Sp. Braga onde, durante alguns meses, foi adjunto de Calos Carvalhal no decorrer da temporada 2006/2007.

Depois de na temporada passada ter lutado pela subida de divisão até à última jornada, o emblema vizelense era apontado como um supercandidato à promoção, pelo que o actual 14.º lugar na tabela classificativa terá fundamentado o acordo selado entre o técnico e o presidente Paulo Pinheiro.

Carlos Garcia não quer, por enquanto, comentar a saída do clube que ajudou a projectar, depois de alcançar, no final da época 2004/2005, a desejada subida à Liga de Honra. Uma decisão que, defende, visa dar tranquilidade ao grupo de trabalho. Paulo Pinheiro também não acrescenta dados ao comunicado emitido pelos vizelenses no seu sítio da internet, onde pode ler-se que a rescisão é “a melhor decisão” para defender “os interesses do clube.”

Adjuntos provisórios

Os jogadores vizelenses ficaram a saber do afastamento de Carlos Garcia antes do treino vespertino de ontem. O técnico e o presidente estiveram no balneário para dar conta da decisão de ambos, tendo o treinador aproveitado para se despedir dos jogadores e deixar-lhes uma mensagem de optimismo para o futuro.

O núcleo duro da direcção já desenvolveu vários contactos no sentido de contratar o novo treinador a tempo do jogo com o Gondomar, no domingo. Paulo Pinheiro e o seu presidente adjunto, José Armando Branco, estiveram reunidos ontem à tarde, mas ainda não terão encontrado o substituto ambicionado.

Os adjuntos Fernando Baptista e José Alberto orientarão as próximas sessões de treino. Contudo, os dois técnicos são apenas uma opção provisória, ao contrário do que acontece no Beira-Mar e Gil Vicente, onde a solução passou por dar o cargo, respectivamente, ao preparador físico Bruno Moura e ao director desportivo Manuel Ribeiro.
Autor: BRUNO FREITAS
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NR - As fotos são de arquivo e mostram Carlos Garcia a chorar quando na época passada falhou por pouco a subida à I Liga: culpou o árbitro Carlos Xistra.

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