Dulce Félix vista pelo jornal O Jogo


"De empregada fabril ao estrelato mundial" - é o título da crónica do jornalista António Flor publicada pelo diário desportivo O JOGO sobre a atleta que passou do FUtebol Clube de Vizela (e da fábrica) para o Sporting de Braga e Selecção Nacional.


De empregada fabril ao estrelato mundial
ANTÓNIO FLOR

Ana Dulce Félix, de 27 anos, está a atravessar o melhor momento da sua carreira que culminou, anteontem, com o título nacional de corta-mato, concretizando uma das maiores ambições que qualquer atleta português deseja alcançar a nível interno. Natural de São Martinho do Conde (Guimarães), Dulce Félix representa o Sporting de Braga desde 2008, depois de 13 anos no FC Vizela. Como juvenil e júnior nunca teve resultados de relevo internacional, explicando-se essa realidade, em parte, com o facto de durante oito anos ter trabalhado numa fábrica de confecções. A vida tornou-se um inferno, pois tinha de se levantar todos os dias às seis da manhã para poder fazer o primeiro treino do dia. Seguia para oito horas de trabalho e, ao final da tarde, voltava a calçar as sapatilhas. Todo esse esforço por 450 euros.

A opção pela profissionalização vai na segunda época e tem sido uma aposta ganha, pois, de acordo com as palavras da sua treinadora Sameiro Araújo, "o melhor ainda está para vir". A histórica treinadora do Sporting de Braga, outrora responsável pela preparação de Manuela Machado, Conceição Ferreira e Albertina Machado, é de opinião que a sua atleta tem uma grande margem de progressão. "Agradeço aos seus primeiros treinadores que souberam preparar convenientemente a Dulce no início da sua carreira para que possa agora explorar ao máximo todas as suas capacidades", sustenta Sameiro Araújo, que no perfil psicológico da sua pupila vê muitas semelhanças com as suas ex-atletas que se fartaram de ganhar medalhas nos anos 90. "A Dulce parece uma atleta de antigamente. Muito trabalhadora, humilde e com os pés bem assentes no chão. Há muitas semelhanças com a Manuela e a Conceição".

Quanto ao futuro imediato, o Mundial de Corta-Mato e os 10 mil metros do Europeu de Barcelona, no Verão, são as principais ambições, mas a aposta na maratona, a breve trecho, preenche os seus sonhos. "A Dulce é uma atleta de estrada, por isso, auguro-lhe um futuro risonho na maratona", sustenta a técnica.


Sameiro ficou surpresa com rápida evolução
Em dois anos, a evolução de Dulce Félix foi considerável, surpreendendo a própria treinadora. "É verdade que quando o Sporting de Braga a contratou ao FC Vizela, via nela qualidades muito boas, mas, para mim, foi uma surpresa a evolução que ela teve neste três anos que leva a treinar sob a minha orientação", assevera Sameiro que se encontra com Dulce três a quatro vezes por semana. "Quando ela não vem a Braga, o marido da Dulce, o Rui Ferreira, é quem executa o planeamento. Por isso, costumo dizer que é o meu braço direito".

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