O discurso de João Ilídio Costa, Presidente dos Bombeiros de Vizela no 133º aniversário da Real Associação

"Nunca sabemos o que chega primeiro: o amanhã, ou a próxima vida.
É uma frase célebre de sua Santidade o Dalai Lama que nos deve levar:
- a reflectir natural e permanentemente sobre esta realidade;
- a viver o nosso dia de hoje como se fosse o último, de forma a levar-nos sempre a ser mais comedidos e justos nas nossas interpelações, mais tolerantes, mais solidários e mais apaixonados naquilo que fazemos.
Acreditem que o mundo seria bem melhor e bem mais feliz".




Discurso para a Sessão Solene do Aniversário dos BVVizela
9 de Maio de 2010
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Nunca sabemos o que chega primeiro: o amanhã, ou a próxima vida.
É uma frase célebre de sua Santidade o Dalai Lama que nos deve levar:
- a reflectir natural e permanentemente sobre esta realidade;
- a viver o nosso dia de hoje como se fosse o último, de forma a levar-nos sempre a ser mais comedidos e justos nas nossas interpelações, mais tolerantes, mais solidários e mais apaixonados naquilo que fazemos.
Acreditem que o mundo seria bem melhor e bem mais feliz.

Desgraçadamente, assim não acontece: o mundo global actual levou-nos e lava-nos a ser mais materialistas, egoístas, ambiciosos em excesso e até manipuladores. O neo-liberalismo do século XXI, assente em teses, métodos e filosofias de livre iniciativa individual e de livre funcionamento dos mercados, desvirtuado por falta de regras e por um descontrolo geral evidente de quem governa, transportou-nos para um capitalismo selvagem onde vale tudo e em que a competição desenfreada, fria e muitas vezes sem escrúpulos, sem coração e sem alma, cala e esmaga tudo e todos na sua voracidade de enriquecimento rápido e de conquista. Quando devíamos ter um mundo mais justo e mais igual, temos um mundo centrado na desigualdade e a marcar os extremos. Tudo isto leva o homem a fechar-se mais em si mesmo e a procurar encontrar em si próprio forças e novos conhecimentos para melhor poder resistir e sobreviver, com os resultados que acima se indicam.

Meus caros conterrâneos e amigos: felizmente, contrariando esta evidência e esta realidade actual, ainda aparecem homens e mulheres, pessoas com letra maiúscula que, muito embora fazendo parte integrante deste mundo global, com o qual convivem no dia-a-dia, com mais ou menos dificuldade se afirmam de uma forma diferenciada, com uma visão mais alargada, com mais capacidade de tolerância e com práticas e acções bem mais altruístas e solidárias.
Entre as muitas associações e núcleos solidários que vão aparecendo, permito-me destacar um: os bombeiros, essencialmente os bombeiros voluntários que duma forma generosa, despreconceituada e solidária, 24 sobre 24 horas colocam a sua vida pessoal e familiar muitas vezes em segundo plano e desinteressadamente as põem ao serviço dos outros, em missões bem exigentes, exaustivas, marcantes, muitas vezes traumatizantes e de elevado risco pessoal. Estes homens e estas mulheres, independentemente das suas fragilidades e fraquezas, devem merecer o nosso respeito, a nossa gratidão e o nosso aplauso (infelizmente, nem sempre assim acontece).

Num mundo em que tudo se mede pelo custo > benefício, é surpreendente como muitas vezes os governos e os poderes instituídos tratam estes homens e estas mulheres … e as suas associações. Aqueles que têm bombeiros sapadores, ou municipais, sabem perfeitamente quanto estes corpos lhes custam, para além de não conseguirem satisfazer em exigência e em qualidade o que um bombeiro voluntário consegue e carrega – o afecto e a paixão com que lida e trata o sinistrado ou o doente. Ainda há dias ouvi um Presidente de Câmara dizer: “um acto de socorro feito por um bombeiro voluntário transporta em si cargas enormes de afectividade e amor que um bombeiro profissional não consegue incorporar”.
É, pois, muito importante que os nossos responsáveis governamentais e autárquicos saibam quantificar, o que representa em benefício a sua existência, que os acompanhem como devem, que não os esqueçam e, pior, que não os ostracizem, reconhecendo-os como a força mais importante que têm aos seu dispor para acorrer a tudo e a todos quando a necessidade e o dever o impuserem.

Exmo. Presidente da Câmara Municipal de Vizela, Sr. Dinis Costa: genericamente os bombeiros de Vizela têm recebido a compreensão e o apoio do município. Há, contudo, coisas muito importantes que devem merecer uma atenção mais próxima e especial: o apoio claro e determinado à ultimação do gabinete de operações e de crise, a ajuda na reestruturação do espaço da parada, um dos instrumentos mais importante num corpo de bombeiros, e o estudo, dimensionamento, recolha e apetrechamento do Museu Histórico da Associação.
Independentemente deste apoio, num reconhecimento público mais que merecido e já prometido, é tempo de se fazer a homenagem aos nossos bombeiros pela aprovação e colocação da estátua na rotunda circundante às nossas instalações.
É uma forma muito nobre e muito abrangente de homenagear os nossos bombeiros e, homenageando os nossos bombeiros, homenagearemos todos aqueles que hoje recordamos neste 133.º aniversário … e que tantos foram. Algumas figuras bem importantes, mas – genericamente - queremos homenagear todos os que serviram esta casa e esta causa, mesmo o mais anónimo e já esquecido.

Neste dia, e num gesto de gratidão por tudo o que fizeram em prol da Associação e da Corporação de Bombeiros, nos cargos que assumiram ultimamente como Presidente da Direcção e como Comandante nos 6 passados anos, vamos homenagear o ex-Presidente da Direcção António Manuel Ferreira Pacheco e o ex-Comandante Manuel Rogério Pinto Caldas. São indiscutivelmente merecedores do galardão que a Direcção actual, por unanimidade, no passado dia 04 de Março de 2010, dando cumprimento ao Artigo 1.º do Regulamento das Distinções Honoríficas, pediu ao Conselho da Liga dos Bombeiros Portugueses: a atribuição da Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro. Desde já felicito os homenageados, de seguida condecorados, acto que vai ter lugar após a minha intervenção.

Aproveito para fazer um agradecimento público: Em primeiro lugar, aos bombeiros, felicitando também todos os que hoje foram medalhados; Em segundo lugar, a todos os colegas dos corpos sociais; Em terceiro, à Câmara Municipal na pessoa do seu Presidente – Sr. Dinis Costa, e a todos os responsáveis autárquicos; Por último, a todos os que já serviram esta associação, aos associados, aos benfeitores, aos amigos e população em geral, aos párocos, às comissões de apoio e à comunicação social em geral, por tudo o que todos sem excepção têm feito por esta associação e por esta casa.

Termino como comecei: vivamos o dia de hoje como se fosse o último e, como o bombeiro, demos dimensão a todas as nossas obras, servindo dedicada e desinteressadamente e fazendo o bem a todos os que realmente precisam.

Um bem-haja com muita amizade.

João Costa

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