Férias – Por Terras de Melgaço

Descansar uns dias, depois de um ano inteiro de trabalho, mais que um direito, é uma questão de sobrevivência. O próprio Mestre sabia disso quando disse: “Vinde e descansai um pouco!”. O Seu conselho, porém, não é um convite à preguiça, à instalação, ao nada fazer. Daí que tenha acrescentado: “descansai...um pouco!”. Para mim tenho que as férias são, sobretudo, uma mudança de actividade. Descansar, sim, sem dúvida que faz falta, mas as férias são também uma oportunidade excelente de partilha, de aventura, de descoberta. POR ARMINDO VAZ





E nosso Portugal tem ainda tanta coisa bonita para descobrir!

Minhoto até às raízes, quando por motivos profissionais calcorreei, durante anos, o nosso País, costumava dizer que”em Portugal, quanto mais para Norte, melhor!”. Era aquela sensação de regresso a casa, do aconchego do lar. Mas era também mais do que isso. O Norte é mais ingénuo no bom sentido, não esconde nada, é mais franco , mais autêntico.

Quando li o artigo do Miguel Esteves Cardoso (http://minimalix.blogs.sapo.pt/36861.html) só lhe pude tirar o chapéu. E ficar-lhe grato. Por ter conseguido pôr em palavras aquilo que nos vai na alma de nortenhos.

E foi essa vontade de regresso às origens, por um lado, mas também de sentir a terra, o verde e o azul, o ar puro, a Natureza, ainda quase intacta, que me levou a aceitar o convite do meu bom amigo e mestre Pe. Prof. Carlos Vaz e rumar até Melgaço.
Não há melhor guia. Profundo conhecedor da sua terra, com uma extensa obra de investigação histórica sobre a mesma, mostrou-nos tudo sobre Melgaço, desde a história, as Termas do Peso, as verandas (ou brandas), sem esquecer a gastronomia ou o famoso Alvarinho.





Sobre a história de Melgaço:

O povoamento destas terras deverá remontar a 5 ou 6.000 anos antes de Cristo, tal como o atestam as mamoas ou antas do Alto da Portela do Pau, em Castro Laboreiro. Porém, deste período, quase nada se sabe.
Sabe-se que os Romanos por aqui estiveram e foram relativamente bem recebidos, também por terem sabido respeitar os nativos e a sua organização em castros. Fazia parte da Gallaecia, quando, em 216, Braga é elevada a capital desta província romana. Braga, aliás, continuou também a ser a capital política e religiosa do reino suevo, que por aqui se implantou em finais do sec. V e boa parte do sec. VI, estendendo-se bem para sul do rio Douro, quase até ao Tejo. E, quando, da Diocese de Braga, se desmembraram as dioceses do Porto e de Tui, o rio Lima ficou a servir de divisória entre as Dioceses de Braga e de Tui. Quer isto dizer que Melgaço ficou na dependência religiosa de Tui, onde se manteve até 1381. Quase 8 séculos! Isto, apesar das vicissitudes da invasão árabe, das lutas da reconquista e mesmo depois de, politicamente, ser parte do reino independente de Portugal.
A Melgaço chegou também a influência da obra pastoral de S. Martinho de Dume. Vindo de Bizâncio, em 552, ao que parece em navios do império, trazia consigo uma equipa de mestres, uma rica biblioteca, copistas e homens preparados para ajudar os suevos. Bem recebido em Braga pelo rei suevo, impulsionou o funcionamento do mosteiro de Dume e da Escola do Palácio.
S. Frutuoso, natural do Norte da galiza e mais tarde arcebispo de Braga, seguiu-lhe o exemplo, facto que nos leva a pensar que os mosteiros de Paderne, Fiães e de S.Paio terão sido, na verdade, fundações suevo-visigóticas, de inspiração peninsular e, só mais tarde, beneditinas.
Melgaço obteve de D. Afonso Henriques, em 21.07.1183, o seu primeiro foral. Porém, Paderne e Fiães gozavam desde então, e até à reforma de Mouzinho da Silveira, do privilégio dos Coutos, com jurisdição própria, o que, se por um lado comprometeu o crescimento do concelho de Melgaço (“entalado” entre estes e o rio Minho / Espanha), por outro, não a impediu de dar importantes contributos à Nação portuguesa. Neste capítulo, há a salientar três momentos importantes:
 O episódio da Inês Negra: - no rescaldo de Ajubarrota, Atoleiros e Valverde, havia que consolidar a independência, conquistando as praças fortes ainda em poder dos partidários de Castela. Melgaço era uma delas. Em Março de 1388, D. João I montou-lhe o cerco, preparando com todo o cuidado o assalto final, para que a vitória não lhe escapasse. No entanto, os planos viriam a ser alterados perante a proposta de uma melgacense, partidária de Castela, chamada Arrenegada, que, a fim se se pouparem mortes escusadas, propôs-se combater com uma rival, escolhida de entre as sitiantes. A vitória daria o castelo aos representados da vencedora. Inês Negra, partidária de D. João I, aceitou o desafio e atirou-se à Arrenegada com todas as suas forças, até que esta se deu por vencida, ganhando assim o castelo para as forças portuguesas.
 Na sequência da guerra da independência, de 1640-1668, e da sucessão em Espanha, de 1701-1715, e da reorganização do exército português, empreendida pelo Marquês de Pombal, levaram à instalação de 4 companhias de soldados em Melgaço. Daqui adveio um importante desenvolvimento social, com numerosos soldados e oficiais a unirem-se, pelo casamento, com famílias locais:
 Em 11.06.1808, Melgaço foi das primeiras localidades a soltar o seu grito de liberdade contra os invasores franceses.

O Museu do Cinema:
Situado em plena zona histórica da cidade, é fruto da paixão por Melgaço do cinéfilo francês Jean Loup Passek. Inclui centenas de objectos ligados à sétima arte, bem como inúmeras máquinas da época pré-cinema. A explicação de cada uma, prendeu a atenção de todos, a começar pela pequenada.

As Termas do Peso
Implantadas no frondoso Parque Termal do Peso, na freguesia de Paderne, cruzado por três ribeiros de águas límpidas, é um chamamento ao contacto com a Natureza, especialmente apetecível nas cálidas tardes de Verão.
As suas águas minerais, naturalmente gasosas e ligeiramente alcalinas, são de bebida muito agradável.
As termas de Melgaço estão indicadas no tratamento da diabetes de maturidade e hipercolesterolemia.

As Verandas (ou Brandas)
As verandas, ou brandas, são pequenos conjuntos de casas que algumas freguesias têm, no meio das serras. Para aqui se desloca parte da família dos agricultores com os seus gados, no Verão (daí o nome de “verandas”), quando os campos estão ocupados com as sementeiras e, por isso, escasseia a alimentação para o gado. Aqui passam uma parte do Verão, onde o pasto é mais abundante, o tempo mais fresco e a vida mais alegre.
Muitas delas tem a sua capela ou igreja, onde celebram a sua festa anual.
Visitámos a da Aveleira: o ar fresco e puríssimo, um silêncio quase completo, só entrecortado pelo rumorejar da fonte de água cristalina, junto à igreja. Que pena não termos tido tempo para estender a manta à sombra de um frondoso carvalho e saborear esta quietude, um bom livro, ou simplesmente ver as nuvens a passar no azul do céu...

A gastronomia ...e o Alvarinho
Da gastronomia melgacense pode dizer-se o que acima se disse a cerca do Norte: é genuina e autêntica, não tem nada a esconder. De entre várias delícias, salientamos o cabrito assado e o bacalhau com broa, estes saboreados na Albergaria Miracastro, em Castro Laboreiro. E os preços são moderados, não se engana ninguém! Não admira, por isso, ver os nossos hermanos espanhóis a banquetearem-se nos restaurantes de Melgaço.
Mas falar de Melgaço, é falar de Alvarinho. Saboreámos dois, nas respectivas origens: o “Casa de Canhotos”, macio, frutado, e o “Casa de Cerdedo”, mais seco e aromático. Uma maravilha, uma autêntica bênção!

Para além da questão turística, reflectir um pouco sobre a História, ajuda-nos a compreender muito das afinidades que ainda hoje existem entre o Minho e a Galiza e deitam por terra terra teorias recentes sobre o “Grande Andaluz”.

Partilhar