"É hora de continuar a fazer abril em Vizela e em Portugal"

Discurso de João Polery (PS) na sessão solene do 25 de Abril. "O último enquanto líder paralmentar do PS"



Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Vizela
João Polery (foto de arquivo)
Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Vizela
Exmas. Sras. e Srs. Vereadores
Exmas. Sras. e Srs. Deputados Municipais
Exmos. Srs. Convidados – Autoridades civis, militares e religiosas
Minhas senhoras e meus senhores,

Em 1996, na sua intervenção na Assembleia da República, Manuel Alegre, o poeta da liberdade, citava não um dos seus versos mas uma frase do pensador Eduardo Lourenço para dizer que o 25 de Abril era a “Liberdade feita dia”. E prosseguiu aludindo a este dia como o dia que todos, mesmo sem saber ou sem o querer, comemoramos. Isto porque, não fosse a Revolução dos Cravos e “não estaríamos aqui a dizer o que pensamos, livremente. Hoje temos o direito de viver sem medo, de falar sem medo, e, sobretudo, a liberdade de discordar sem medo”, sintetizou.
Inicio a minha intervenção, citando Manuel Alegre, político, poeta da liberdade, socialista, porque nunca como hoje fez tanto sentido falar em liberdade.
Liberdade de pensamento, liberdade de expressão!

Há quem esqueça continuamente que um Homem não é uma ilha. Muito menos o poderão ser as e os líderes políticos, ou simplesmente aquelas e aqueles que, pelo lugar que ocupam, têm a obrigação de comandar as suas tropas na concretização do desígnio traçado ou nas metas que pretendem alcançar.
E alcançar metas e desafios num cenário de crise, económica e de valores, é tanto mais difícil quanto menos liberdade de expressão for exercida.
Governo, autarquias locais, como aqui o nosso concelho de Vizela, jamais singrarão na luta que tem para travar nos próximos anos, e aqui coloco luta entre aspas, obviamente, caso não impere a integridade, a honra, os princípios democráticos conquistados em Abril de 1974.

Vizelenses,
Hoje discurso perante vós pela última vez, enquanto líder do grupo parlamentar do Partido Socialista.
Foram anos de muita satisfação política e pessoal, tendo procurado sempre defender o pluralismo de ideias, pois só assim foi possível esclarecer devidamente os vizelenses da estratégia do PS para Vizela. Uma estratégia em que sempre acreditei e por isso defendi acerrimamente.
Daí que discursar no 25 de Abril de 2013, seja um momento particularmente importante.

A crise económica e de valores de que falei há pouco, tanto a nível nacional como local, impõe aos políticos o exercício das suas funções livre de qualquer suspeição. Podem chamar branca ou cor-de-rosa à revolução que muitos, e são cada vez mais, os que defendem o fim dos partidos políticos. Ao contrário deles, eu defendo os partidos políticos, enquanto estruturas próprias da democracia. Defendo também os movimentos de cidadãos independentes ou nem por isso. Mas tanto num caso como noutro, sublinho a exigência de transparência e idoneidade dos protagonistas políticos, os quais se querem, hoje mais do que nunca, repito, livres de quaisquer suspeições!

Minhas senhoras e meus senhores,
Não estou com este meu discurso a querer ser um arauto da retidão. Não!
Apenas procuro lembrar da necessária separação da esfera privada da esfera política. Ser político é defender a causa pública. Defender o bem comum!
Para defesa do bem comum de Portugal se revolucionaram os capitães de Abril. Para defesa do bem de Vizela, se revolucionaram os vizelenses, a quem, na pessoa do líder histórico do MRCV e cidadão honorário, Sr. Manuel Campelos, saúdo.
Aliás, sempre que intervenho neste dia, faço a analogia entre o 25 de Abril de 1974 e 19 de Março de 1998. Duas efemérides de caris marcadamente popular, em que milhares de pessoas saíram à rua para celebrarem a sua liberdade e autonomia. Aos protagonistas de ambos, deixo aqui o meu reconhecimento.


Ao festejarmos o 25 de Abril, saudemos ainda aqueles que tiveram coragem de mudar de regime, mas também os arquitetos de um tempo novo, os artesãos da nossa democracia.
A nossa ainda jovem democracia tem tido um percurso difícil, com obstáculos, mas tem tido um percurso de sucesso.
Em nome do Partido Socialista, presto a minha homenagem a todos quantos, pela sua luta empenho e coragem, tornaram possível a revolução de Abril.

Saúdo também aqueles que com o seu esforço ajudaram a transformar Abril em mais e melhor educação, mais e melhor equidade social, mais e melhor habitação, mais e melhor saúde, maior igualdade de oportunidades, mais e melhor prestígio de Portugal no mundo.
Uma revolução democrática é um processo contínuo, que precisa de se reinventar permanentemente para fazer face aos novos desafios.
É um processo contínuo que precisa de se reinventar também para estar à altura das legítimas aspirações das novas gerações.
Uma revolução democrática precisa de rumo e de memória.
Desde há 22 meses, em nome de uma agenda ideológica de total submissão aos mercados e aos seus interesses, o governo tem vindo a proceder à maior inversão de rumo da nossa história democrática, ignorando ao mesmo tempo a nossa memória coletiva.
O rumo de crescimento e de progresso foi invertido em nome dessa agenda ideológica, da falta de experiencia governativa, da insensibilidade social, do desnorte e da teimosia inqualificável da austeridade a qualquer preço.

Portugal deixou de crescer economicamente e de criar emprego.
Os indicadores sociais, as qualificações e os repositórios de conhecimento deixaram a trajetória de aproximação à média europeia e todos eles começaram mesmo a regredir, deitando por terra décadas de esforço e de empenho de muitos governos de muitas instituições e, principalmente, de muitas pessoas.
Este é o primeiro governo da nossa história democrática que parece querer dispensar a memória de Abril. A memória dos valores que deram fulgor. A memória do sentido forte da nossa identidade enquanto País europeu aberto ao mundo.
Este é o primeiro governo da nossa história que tem sido um aliado das visões extremistas que estão a corroer a Europa.
Abril é fonte de Liberdade e diversidade.
A liberdade não se proclama nem se impõe. A liberdade pratica-se à medida de cada um e no respeito por todos.
A liberdade é a realização coletiva mais importante que um povo pode alcançar. É o direito ao trabalho, à autodeterminação económica, ao acesso igual à educação e à saúde, em suma à felicidade.
Há outro caminho. Um caminho com as pessoas, um caminho com a confiança, com a verdade, um caminho com alegria e com dignidade. Um caminho com esforço.

As portas que Abril abriu, que não as fechemos nós. É hora de continuar a fazer abril em Vizela e em Portugal.
O nosso compromisso é com os Vizelenses e com o interesse de Vizela. Permaneceremos fiéis aos nossos valores mantendo a nossa postura construtiva e afirmando a nossa responsabilidade.

Viva o 25 de Abril!
Viva Portugal!
Viva Vizela!

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