Compassos andam nas ruas a bater de porta em porta

É dia de Páscoa. O tempo, nem muito calor nem chuva, está a preceito das inúmeras visitas pascais que hoje decorrem por todo o dia nas sete paróquias do concelho de Vizela. Ao fim da tarde dá-se a sempre aguardada recolha das cruzes de S. Miguel das Caldas no quartel dos Bombeiros de Vizela. 


A bonita tradição da visita pascal está na rua. Ouvem-se foguetes e as campainhas que anunciam a chegada dos compassos.É dia de Páscoa. E a Páscoa é vivida intensamente no Minho. Onde estamos.





A Visita Pascal

POR D. JORGE ORTIGA, ARCEBISPO DE BRAGA




A Visita Pascal ou Compasso, como anúncio festivo da Ressurreição do Senhor, está fortemente arreigada na tradição cristã da nossa Arquidiocese. Por isso, deve enquadra-se nas preocupações evangelizadoras dos Párocos e seus colaboradores, procurando que seja devidamente preparada e decorra com a dignidade e o prestígio que convém a uma actividade eclesial tão rica de sentido, que interpela as pessoas, congrega as famílias e gera um clima de são convívio tão do gosto do nosso povo. A propósito, queremos relembrar e salientar alguns aspectos e orientações que se devem ter em conta na celebração da Páscoa e na realização da Visita Pascal, a fim de garantir o seu carácter festivo e de celebração da fé na Ressurreição. 1. Merece uma referência especial a celebração da Vigília Pascal, coração da liturgia cristã, a mais antiga, a mais sagrada, a mais rica de todas as celebrações, “a mãe de todas as vigílias”, no dizer de Santo Agostinho. Por isso, deve ser celebrada com o ritmo litúrgico que lhe é próprio, em ambiente de calma e serenidade, de modo a favorecer a interiorização e vivência do Mistério Pascal. Todos os Sacerdotes, mas sobretudo os que têm mais de uma paróquia, devem atender à hora e ao número de celebrações. O critério da qualidade é o único a considerar e fomentar. Educar as comunidades para uma certa rotatividade pode tornar-se urgente, quer para garantir e promover a desejada qualidade, quer para que nenhuma comunidade, por mais pequena que seja, fique privada, ao menos em anos rotativos, desta experiência tão rica e tão bela do Mistério de Cristo. 2. O Compasso não pode diminuir a importância da celebração do Domingo e, neste, da Eucaristia. A celebração da Eucaristia enquanto memorial da ressurreição do Senhor tem especial significado e deve constituir momento alto e vivamente participado pela comunidade paroquial. É necessário programá-la bem, dentro do condicionalismo do dia, e torná-la num momento de autêntica festa cristã. O próprio Dia de Páscoa não deve ser um Domingo como outro qualquer. Deve ter iniciativas especificamente cristãs a fim de se preservar, em todo ele, o espírito que lhe é próprio. Com cuidado e prudência, será bom desenvolver os sinais exteriores de alegria que possam contribuir para melhor proclamar e tornar mais sensível a jubilosa notícia da vitória de Jesus sobre a morte e o pecado, através da sua gloriosa Ressurreição. Há iniciativas interessantes que importa partilhar, ouvindo um ou outro Sacerdote onde isso já se faz e refaz, todos os anos, envolvendo toda a paróquia ou paróquias que lhe estão confiadas, quer quanto à preparação das equipas do Compasso, quer quanto aos sinais ou traje a usar, quer quanto à forma de purificar alguns aspectos descabidos, quer quanto ao modelo de oração a fazer, nas casas, com as famílias visitadas, quer quanto à forma de terminar o dia em encontro festivo de todos os Compassos, por vezes com Eucaristia, sinal da presença do Ressuscitado entre todos. 3. Nas circunstâncias actuais, o recurso a leigos para presidirem ao Compasso constitui óptima alternativa à escassez de clérigos e religiosos. Com alegria, constatamos que tudo já entrou dentro da normalidade. Lembramos, no entanto, alguma precedência a respeitar na presidência do cortejo da Visita Pascal ou Compasso, onde e no caso de ser possível: 1º. quaisquer sacerdotes, em exercício de Ordens, diocesanos ou não; 2º. diáconos, leitores, ou acólitos instituídos; 3º. alunos do Seminário Conciliar, já com direito ao uso de batina; 4º. religiosos professos, não sacerdotes, revestidos do próprio hábito; 5º. leigos comprometidos em actividades eclesiais nas paróquias, homens ou senhoras, que sejam bem aceites pela comunidade. Lembramos, no entanto, a necessidade de os preparar, convenientemente, com a devida antecedência, por meio de reuniões adequadas, a nível da paróquia, de zona pastoral ou de Arciprestado. Tais leigos não podem vestir alva, batina ou sobrepeliz, mas sim uma opa ou qualquer outro sinal distintivo, diferente do que também devem levar os elementos do grupo que o acompanham. Evite-se clericalizar os leigos com vestes que não lhes pertencem e confundem o povo. Não se recorra a Seminaristas do Seminário Menor, adolescentes ainda, nem tampouco se recorra a leigos doutras paróquias, ou antigos seminaristas, vestindo-os de batina ou alva, passando por aquilo que não são. Sabendo que há pessoas que, infelizmente, se prestam para tudo, não podemos esquecer que a Páscoa é Verdade e reclama que sejamos verdadeiros. 4. O fenómeno do urbanismo, avolumado nos últimos tempos, provocou um acentuado crescimento habitacional na periferia dos grandes e médios aglomerados populacionais, à custa da desertificação das zonas do interior, mais pobres e isoladas. O facto acarreta inevitáveis problemas de índole pastoral, um dos quais se prende com a delimitação das paróquias nas áreas em expansão. Com frequência, surgem dúvidas sobre os limites, por motivo da construção de moradias nos terrenos confinantes, com a agravante de maior mobilidade dos respectivos habitantes. As consequências de tais indefinições revelam-se na recepção de alguns sacramentos, como o baptismo e o matrimónio, nos funerais, na catequese das crianças e ainda em várias outras manifestações religiosas. Assumem, porém, particular acuidade e repercussão pública na Visita Pascal. Tem sido princípio assumido na Arquidiocese de Braga aceitar as decisões dos competentes Órgãos administrativos do Estado acerca dos limites, quando se trata de áreas rurais, ou seja, fora dos centros urbanos de grande dimensão, onde as paróquias eclesiásticas não costumam coincidir com as freguesias civis. Onde e enquanto persistirem dúvidas sobre tais fronteiras, para a efectuação da Visita Pascal, observem-se as seguintes normas: 1) Os Párocos em causa procurem chegar a um consenso entre si e com as famílias interessadas. A solução até poderá estar em fazer passar, em cada ano, um Compasso ou outro, alternadamente, ou, então, os dois, a horas diferentes, para possibilitar, assim, às famílias, a abertura da casa ao Compasso da paróquia que desejarem. 2) Enquanto se mantiver o “impasse” na decisão dos limites civis, se não for possível obter este clima de paz e de alegria pascal em consenso sadio, pode ser conveniente suspender a visita pascal às famílias da área em litígio. É preferível não se realizar um acto religioso que, embora rico de significado, não é essencial para a vida cristã, do que dar um exemplo triste de público desentendimento, porventura com risco de violência e de cenas desagradáveis. 

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