RUI CAMPELOS: Gostava que o meu pai fosse recordado como um homem lutador, de convicções, frontal e que fez tudo para que a sua terra se tornasse independente

Vizela vai viver o primeiro 19 de Março - data da aprovação na generalidade na Assembleia da República do novel Município - sem a presença terrena de Manuel Campelos fundador e líder do Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela (MRCV) falecido a 20 de agosto do ano passado.


Para aquele que é apelidado como "Pai do Concelho" a Câmara Municipal de Vizela tem em agenda uma homenagem póstuma que passa pela atribuição do nome de Manuel Campelos para a designada Rua do Fórum e a exposição de um busto junto aos Paços do Município.

O ddV falou com Rui Campelos (o único filho homem de Manuel Campelos que contava ainda com quatro filhas) a quem perguntou inicialmente o que achava das evocações previstas em memória de seu pai tendo aquele respondido:

RUI CAMPELOS - São evocações justas e merecidas e que vão perpetuar a memoria do meu pai para sempre, num bom trabalho elaborado pelo Município. Mas bom bom seria ele estar entre nós para ver o reconhecimento do seu esforço de tantos anos. É isto que me entristece.

ddV - Há tempos alguns vizelenses apontaram, ainda com o seu pai entre nós, o nome de Manuel Campelos para a Praça da República. O que achou disso?

- Fiquei muito contente com a proposta, que surgiu penso que em 2016 de um grupo de pessoas que conheciam bem a importância que o trabalho do meu pai teve na criação do concelho de Vizela. A Praça da Republica é o local mais central de Vizela e por isso seria um orgulho que tivesse o nome do meu pai, que ainda por cima ficaria junto ao jardim Manuel Faria que era seu padrinho e também um grande amante da sua terra. Pena foi que não o tivessem feito nessa altura, pois ele bem merecia ter essa homenagem em vida.

- Como gostaria que o seu pai fosse recordado pelas gerações vindouras?
- Como um homem lutador, de convicções, frontal e que fez tudo para que a sua terra se tornasse independente, sem qualquer tipo de interesse pessoal escondido.

- O que pode fazer mais a Câmara e outras entidades para transmitir aos jovens o amor e a dedicação do seu pai por Vizela?
- Mostrar o seu trabalho e a sua vida continua de dedicação á causa da independência Vizelense. Dizer-lhes que existiu alguém que muitas vezes sozinho, quando já ninguém acreditava que fosse possível, manteve sempre a chama acesa, conseguindo que á sua volta se criasse uma união de todos os quadrantes políticos, única no país, com um único objetivo – a independência da sua terra.

"Conseguia ter uma organização 
e capacidade que lhe permitia ser um 
pai presente e disponível para educar 
e ajudar os filhos sempre que precisassem. 
Foi o nosso herói completo."

- Em tempos o seu pai legou à biblioteca da Fundação Jorge Antunes o seu espólio, recortes de jornais, livros, revistas sobre a luta de Vizela. A família guardou algumas peças da luta autonómica?
- O que hoje temos ainda guardado são objetos e recordações pessoais suas, homenagens com dedicatórias muitas delas de figuras publicas nacionais e agradecimentos de muitas outras pessoas e Movimentos que lhe pediam orientações para levar os seus projetos para a frente, bem como fotografias de momentos importantes da luta vizelense.

- Como era lidar com o seu pai, que pôs muitas vezes a luta de Vizela acima da própria família?
- Eu sei que existem muitas pessoas por todo o mundo, que tal como o meu pai, se dedicaram a uma causa que lhes roubava muito tempo, descorando depois a família. Mas o meu pai não foi assim. Se o reconheço como um herói para Vizela, considero-o ainda mais como pai. Apesar das contínuas viagens a Lisboa durante 40 anos de luta, da ocupação diária mental e no próprio terreno com os seus afazeres profissionais e com o tratamento da causa Vizelense, estava sempre presente para a família. Conseguia ter uma organização e capacidade que lhe permitia ser um pai presente e disponível para educar e ajudar os filhos sempre que precisassem. Foi o nosso herói completo.

- Vizela seria hoje concelho sem Manuel Campelos?
- Não. E não sou eu só que o digo, mas muitos dos seus companheiros de luta vizelense. Engraçado que no espólio que ainda temos em casa, encontrei dois livros de duas cidades que também foram concelho na mesma altura, com duas dedicatórias dos seus responsáveis que dizem “ Ao nosso grande amigo Manuel Campelos, com muita amizade e estima, pois sem ele não era possível sermos concelho”.

- E não porquê ?
-  Porque em causas deste tipo, o mais difícil é manter viva a chama mesmo quando já ninguém acredita, é pensar continuamente em novas formas de luta, quando as anteriores não tiveram sucesso, é manter um elo de ligação entre pessoas de ideologias diferentes levando-as a ter o mesmo objetivo e é principalmente, amar muito a sua terra. Vejam quantas causas não chegaram ao fim por todo este mundo, por não terem alguém que lhe desse continuidade. Mas também acredito que sozinho não fosse possível. Foi toda a organização criada nos vários sectores, liderada pelo MRCV e com o apoio na rua da PESADA, bem como de todos os anónimos amantes da sua terra, que fizeram com que o concelho fosse criado.

- Qual era a frase que escolhia para colocar junto ao busto de seu pai?
- Se calhar uma frase muito boa do nosso atual Presidente de Câmara – Se Manuel Campelos nunca esqueceu Vizela, Vizela nunca o esquecerá. ddV


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Alexandra Campelos Muitas vezes já ninguém acreditava e ele mantinha a sua crença e não baixava os braços. Tenho sido confrontada inúmeras vezes com recordações de enorme carinho por parte de muitas pessoas que privaram com o meu pai, e que lhe reservam um cantinho nos seus corações. Não fazia ideia nenhuma das coisas maravilhosas que me contam, de momentos que passaram com o meu pai e de recordações que guardam dele em suas casas com muito carinho. O meu pai oferecia muitas coisas a muitas pessoas que eu desconhecia por completo. Mas o que eu não desconhecia e guardarei comigo para sempre é o seu enorme coração, e como o vi emocionar-se tantas vezes quando recordava certos acontecimentos. Como disse um cidadão de Vizela muito emocionado no velório do meu pai " O POVO DE VIZELA TEM UMA DIVIDA PARA COM ESTE HOMEM QUE DINHEIRO NENHUM CONSEGUIRÁ PAGAR."
Como ele merecia que lhe tivessem feito isto em vida!

(Comentário da filha mais nova de Manuel Campelos, Alexandra Campelos, na página do ddV no Facebook)





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