Como vamos de árvores em Vizela?

José Videira não tirou qualquer curso sobre árvores, o que sabe aprendeu dos livros e no terreno pois é um grande admirador desta matéria. Os seus conhecimentos já levaram os autarcas de Vizela a convidá-lo para os acompanhar em visitas de reflorestação do Parque das Termas e há professores que o convidam para palestras. O ddV quis apurar, através deste bom vizelense, o ponto da situação relativamente ao atual panorama arbóreo do nosso concelho.



ddV - De onde vem esse seu conhecimento e gosto em estudar as árvores?
JOSÉ VIDEIRA - Desde criança que admirava algumas árvores de Vizela.
Uma era um choupo, a quem chamávamos a árvore da estação.
Também era fascinado pelos três Pinheiros Mansos do Engeio, os quais foram plantados pelo avô do Costa da Vinha, mais conhecido por Mestre da Música Nova. Um destes pinheiros não resistiu à forte ventania da tempestade Elsa e caiu. Mas a árvore que mais gostava, era um Negrilho que florescia na margem direita do Rio de Passos, nas traseiras do antigo Hotel Bragança, onde morava a minha avó materna, a Emília peixeira.

- Boas recordações?
- Sim. Enquanto a minha mãe lavava a nossa roupa no Rio de Passos, eu trepava o Negrilho e ficava lá empoleirado. Aquando das obras da Refer foi derrubada sem dó nem piedade esta árvore com mais de cem anos. Também nos livros de banda desenhada por vezes estava escrito, que as sequóias eram as árvores mais altas do mundo. Ao saber que existiam algumas no parque, fui conhecê-las, mas não fiquei espantado com elas, porque a árvore da estação era mais alta. Desde pequeno já gostava das árvores. Por isso, sempre que me esbarro com uma que não conheço, aguça-me a curiosidade para saber o seu nome.


- As obras da praça da república e jardim já mexeram com as árvores e fizeram correr diversas opiniões. O que espera daqui?
- Quanto às obras da Praça da República, já dei a minha opinião na altura devida a quem de direito. Sei que não me deram ouvidos. Se a praça ficar igual ao projeto, vai correr dali com as pessoas. Os arquitetos, acham que as praças não devem ter árvores nem bancos, mas sim repuxos de água. E se visitarmos outras praças, tanto em Portugal como no estrangeiro, assim acontece, mas ali é a Lameira, é um nome com mais de duzentos anos e que ainda nos fascina.
Eu sei que a Praça vai ter novas árvores, tive o cuidado de ir às apresentações públicas do projeto, porém eu teria mantido os plátanos que estavam na Praça da República. Pela fotografia do projeto não me parece que aquele tipo de árvores que vão por terão a mesma beleza e função de dar sombra como os plátanos que lá estavam, mas vamos aguardar para ver.

- E o jardim Manuel Faria?
- Quanto ao jardim não me consta que vão retirar muitas árvores, até porque um jardim sem elas não faz sentido, não é jardim. Mas há lá árvores que deve ser rigorosamente preservadas, na minha opinião, que são os castanheiros da Índia.

- Já foi solicitado pelas autarquias para dar a sua opinião nomeadamente sobre a reflorestação do Parque das Termas. O que representou isso para si?
- Para a reflorestação do Parque das Termas não me foi solicitado nenhuma opinião. Aliás nem seria necessário, porque a Divisão do Ambiente e Serviços Urbanos da Câmara tem pessoas bem competentes.
No entanto, tenho colaborado com o Presidente de junta, o Sr. Mário José Oliveira, principalmente na colocação de pequenas tabuletas com o nome de cada árvore. E também, quando solicitado, dou a minha opinião no embelezamento dos canteiros. Fico satisfeito por saber que presto alguma utilidade à minha terra. Só isso e nada mais.


- Que tipo de árvores tem o Parque das Termas e de quantas nacionalidades?
- O parque tem árvores exóticas de todos os continentes. Até foi
presenteado com duas Totaras dos nossos antípodas.

- Tendo o Parque mais de um século foram ao longo dos tempos algumas espécies substituidas, ou porque estavam apodrecidas ou foram derrubadas pelo vento. Acha que a renovação foi feita devidamente?
Nem sempre a renovação foi bem-feita. Até vou dar um exemplo: a avenida das Tílias, era ladeada só com exemplares da Tília prateada, agora tem outras subespécies da mesma árvore.
Alguns exemplares únicos que caíram, ou foram abatidos, por oferecer perigo para as pessoas, não foram substituídos. É o caso da Criptoméria japónica “Elegans”.
Também o ácer da Noruega caiu, não resistiu aos fortes ventos da tempestade Elsa, será bom colocar lá outro.
A tempestade Elsa fez mais estragos: de três Podocarpos de Folha Larga, que floresciam no parque, escapou um, também derrubou outras árvores de valor monetário muito elevado, é caso de um Cedro do Atlas, que vivia na margem do lago grande, sendo o seu custo superior a cem mil euros.
Se não se cuida das margens do lago, onde abundam árvores monumentais, em breve cairão, ficando com isso o parque empobrecido. E isto que fique de alerta, porque a sequóia mais alta do parque habita essas margens.


- Atualmente o Parque tem árvores a mais ou a menos? O que achou da remoção dos eucaliptos da parte alta do parque e que gostaria de ver ali?
Na minha opinião tem uma zona bastante densa com árvores a mais e de pouco valor, que escondem outras notáveis e dignas de serem apreciadas. Quanto à remoção dos eucaliptos e dos cepos do monte do parque foi muito bem feita. No entanto, preferia que a regeneração fosse feita com espécies arbóreas exóticas, não existentes no parque propriamente dito. No entanto, com a grande quantidade de carvalhos “Alvarinho”, que lá foi plantada, pode ser que volte a ser vista em Vizela a vaca-loira, que por cá não é avistada há muitos anos.
Mas nem tudo é um mar de rosas, porque desde o Lago dos Cisnes até ao tanque e à casa no monte, aplicou-se uma regeneração tão profunda, que  destruiu um ecossistema ali existente, composto por fauna e flora que desapareceu. Muitos seres vivos tiveram que mudar de casa, entre eles uma ruidosa colónia de gaios e até as cobras e outros pequenos animais que eram alimento para as aves de rapina noturnas. Também desapareceu muita flora silvestre, que lá florescia e que atraía joaninhas, borboletas, abelhas e outros insetos que serviam de alimento às aves insetívoras do parque. Com isto espero não ser mal interpretado, porque o novo visual do monte está muito bonito. E por baixo das mimosas nada florescia.

- Qual é para si a árvore mais importante do Parque?
- Não sei dizer qual é a árvore mais importante do parque. No entanto vou mencionar algumas que são auspiciosas. Uma é um Carvalho Americano, que está situado logo na entrada principal
do parque do lado direito. Ele tem uma copa monumental, que pode correr-se Portugal inteiro sem encontrar outro assim. Outras de realçar são as Sequóias, principalmente as monumentais.
Perto das Araucárias, onde os vizelenses a partir de Outubro, procuram os seus frutos, a quem chamam de “pinhões brasileiros”, estão dois Cedros do Atlas, um é considerado monumental.
A Tulipifera que vive encostada ao Patronato faz espantar qualquer botânico, com a sua extraordinária monumentalidade.
 Contudo o Taxódio é a minha árvore preferida. Porque tem duas caraterísticas invulgares, é uma conífera de folha caduca e tem pneumatófaros, são raízes, que se elevam acima do solo ou da água e se parecem com bonecos, também chamados de raízes respiratórias.
No entanto, fora do parque a jusante da Ponte Velha na margem esquerda do rio, está plantada uma Bétula que eu muito admiro. Para ser apreciada na sua plenitude, é na parte da tarde do dia, vindo do lado da rotunda aparece aquela magnífica árvore de casca branca projetada contra o fundo
do monte de S. Bento. Foi plantada no tempo da câmara de Guimarães. O jardineiro que a plantou, sabia o que estava a fazer. Parabéns para ele.

- E a mais rara no mundo?
- A árvore mais rara do mundo não sei qual é. Só por curiosidade, o Cedro do Líbano que é oriundo do Líbano e está estampado na bandeira desse país, atualmente lá são muito raros.
Mas o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, tem uma lista de espécies arbóreas florestais em Portugal, onde indica as que são raras no nosso país. O parque tem bastantes e são as seguintes: Abeto Branco, Cedro dos Himalaias, Alfenheiro do Japão, Abeto do
Cáucaso, Cameciparis Hinoqui, Totara, Sequóia, Tuia-Gigante, Ácer
Campestre, Melaleuca e Tília prateada.

- Dizem que o parque tem as árvores mais altas do país, é verdade?
- Dizer que o Parque das Termas tem as árvores mais altas do país, isso é uma fantasia nossa, ou seja um mito. E porquê? Eu já vi na Quinta das Lágrimas em Coimbra, uma sequóia mais alta do que as do parque.
Na Mata do Buçaco também há árvores monumentais e mais antigas.
E atenção, a árvore mais alta da Europa está em Portugal, é um eucalipto com setenta e cinco metros de altura, existente na Mata Nacional do Vale de Canas, (Coimbra).
Era interessante medir aquele eucalipto gigante, que tem na sua companhia mais dois e são conhecidos pelos três irmãos. Estão a viver junto ao campo de ténis.
Mais uma curiosidade, em Tavira está plantada a árvore mais velha de Portugal, tem dois mil anos e é uma oliveira.
Também em Lousada existe no Senhor dos Aflitos uma Melaleuca, com uma copa bastante maior do que a do parque.
Mas de uma coisa nos podemos gabar, o parque tem por metro quadrado mais árvores de porte monumental em Portugal.

- Há quem critique árvores plantadas em passeios de cimento ou calceta sendo comum verem-se passeios destruídos pelas raízes. O que acha?
- Árvores plantadas em passeios e calcetas há em todo o lado. Quem plantar árvores extraordinárias, deve-as colocar em locais amplos, como na Lameira. Sendo o centro urbano de Vizela composto por ruas estreitas não é adequado para ter árvores. Todavia eu colocava árvores citadinas
na Rua das Termas do lado do balneário, no lugar dos dissuasores. Aquela rua é insuportável passar lá no verão com tanto sol e sem uma pequena sombra.
Em todas as cidades plantam-se Plátanos e não é só por terem um tronco muito bonito. Todas as árvores produzem uma grande quantidade de oxigénio e absorvem dióxido de carbono, só que o Plátano mesmo quando não tem folhas, continua a purificar o ar pela casca do seu tronco.
Infelizmente é plantado em locais diminutos para a sua monumentalidade e é por isso que as suas raízes alagam passeios e ruas.


- Em frente à igreja de S. João, a escassos metros do Parque, os estreitos passeios tem árvores ao meio. É a favor de as retirar ou manter?
- Não concordo em retirar as árvores que estão plantadas em frente às barracas. Porém, trocava aqueles Alfenheiros do Japão, que são de folha persistente, por outras de folha caduca. Por exemplo: Robínias, uma espécie que já lá existiu.

- O que dizer do sistema arbóreo nas margens do rio Vizela?
Mete dó. Não me lembro de ver cair tantas árvores das margens do rio Vizela como agora. Havia árvores que estavam debruçadas sobre as águas do rio anos seguidos e aguentavam sem cair. Agora basta uma pequena brisa para elas tremerem. Isso começou a acontecer, quando, por inexperiência, arrancaram das margens, herbáceo e pequenas árvores.
Para além da sua importância de embelezamento, refúgio da fauna, estes pequenos bosques desempenhavam um papel importante na estabilização das margens, contribuindo para a retenção do solo das margens em riscos de cheias. Veja-se o que aconteceu este ano nesta época de maior pluviosidade, que alagaram as margens.
Quando da construção da Zona Ribeirinha, novamente a inexperiência de quem mandou cortar amieiros a torto e a direito e de outras situações, que até tenho vergonha de as contar. Tudo isto contribuiu para o colapso das margens.

Eu mandava plantar freixos, salgueiros e principalmente amieiros nas margens do rio. E no interior da Zona Ribeirinha, plantava árvores não autóctones par lhe dar um ar exótico.

- Acha que o concelho de Vizela devia ter mais árvores?
- Sempre que se fizesse uma obra camarária de engenharia civil, devia ter também a opinião de um arquiteto paisagista. Tomo como exemplo para o que estou a dizer, a Rua das Termas, que só tem pedra. Eu mandava plantar árvores onde fosse necessário.

- Nos últimos anos o S. Bento tem sido arborizado em iniciativas da Confraria, das escolas, associações, etc. Que lhe parece?
- Era bom não esquecer, que antes da chegada dos eucaliptos, o monte de S. Bento quase não tinha árvores. No entanto, o crescimento do grau de preocupação sobre questões ambientais, por vezes leva-nos a intervir sobre os ecossistemas. Se estas iniciativas forem baseadas em critérios científicos, estou de acordo. Porque algumas são feitas sem critério ambiental, por exemplo aquela
plantação de oliveiras na Zona Ribeirinha.


- S. Bento necessita de mais árvores?
- O S. Bento está muito bem guardado pela senhora engenheira Fátima. É pessoa muito coerente no que diz e faz. Se necessita de mais árvores? Só ela lhe poderá dizer.


- Manifestou-se há tempos contra a poda das árvores da Praça e Jardim. As árvores não devem ser podadas?
- As árvores são para crescer, não para ser podadas. A não ser para corrigir um crescimento irregular, compor uma copa desequilibrada, se um ramo partir, canos doentes, rebentos indesejáveis e outras situações que o exijam.
É indispensável saber se o tamanho da árvore quando adulta, convém à situação que esta ocupará. Para depois não ser necessário, aplicar podas drásticas, que só lhe trazem doenças e envelhecimento precoce.
Por falar em doenças, veja-se como estão as folhas dos Castanheiros da Índia do jardim, depois da atrocidade a que foram sujeitas. Porque antes da poda estavam saudáveis.


- Já foi a algumas escolas falar sobre árvores. O que acha que deveria ser feito ao nível municipal para a sensibilização dos alunos?
- Sim, já fui com alguns alunos do “Ciclo” falar das árvores no parque. Cativei-os com algumas curiosidades e sei que ficaram felizes. Quem passa tantas horas do dia dentro de uma sala de aulas, faz-lhes bem estes momentos de relaxe ao ar livre.
Infelizmente não sei dizer o que o município deveria fazer para sensibilizar os alunos para as questões do património local. Mas as professoras das escolas já o fazem, falam aos alunos sobre os tempos áureos das Termas, das pessoas que emprestam o nome às ruas de Vizela, do património
arquitetónico das casas, falam do rio que dava trabalho a muita gente.
Havia as lavadeiras do rio Vizela que lavavam a roupa dos hotéis e pensões. Nos moinhos além do moleiro, também se precisava de carpinteiro, pedreiro para picar as mós e ferreiro para afiar os picos dos pedreiros, de quem fosse com as mulas levar a farinha às padarias e tantas outras coisas. Até são as escolas que não deixam morrer algumas das nossas tradições populares. Mas também outras associações como a Casa do Povo, a Avicella, os Irmãos Peixoto, mais recentemente o Coração Azul.
Mas principalmente a Comissão de Festas da Cidade, que no cortejo “Vizela dos Tempos Idos”, mostra, com um espectacular teatro de rua, como se vivia na aldeia de Vizela.

- Fica triste quando uma árvore morre?
- Quando morre uma árvore não fico triste, mas sim quando são mal
tratadas. No entanto, foi para mim uma dor de coração, quando à falsa fé
no rio de Passos derrubaram o Negrilho com mais de cem anos. DDV

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