A COVID-19 e as Doenças Cardiovasculares

Artigo de opinião do Prof. Manuel Oliveira Carrageta no âmbito das celebrações de “Maio, Mês do Coração”.




Os estudos disponíveis apontam para uma mortalidade global da COVID-19 de um pouco mais de 2%, que aumenta muito significativamente com a idade, sendo inferior a 0,5% nos doentes com menos de 50 anos e superior a 15% nos doentes com mais de 80 anos. Os doentes com patologia cardíaca, qualquer que seja a sua idade, têm maior risco de morrer no caso de contraírem a infeção. Mais de 80% dos infetados com o vírus têm sintomas ligeiros que não exigem internamento e um número indeterminado ainda mais alto, é assintomático.


Os principais sintomas desta infeção são a febre e o cansaço, de início, a que se segue a tosse seca, que pode evoluir para falta de ar. A dor de garganta e a rinorreia não são sintomas muito habituais na COVID-19. Se o doente tiver aqueles sintomas, deve ficar em casa e contactar a Saúde 24 ou o seu médico telefonicamente, evitando ir de imediato ao consultório médico ou ao hospital.


As queixas de falta de ar e de cansaço podem ser sintomas de COVID-19, mas também podem ser devidas, por exemplo, a insuficiência cardíaca, o que levanta dificuldades diagnósticas. Alguns doentes idosos ou mais frágeis, podem não ter febre e manifestar sintomas atípicos bastante pouco específicos, tais como confusão mental, quedas, etc., que, por si só, não levantam a suspeita da presença da infeção.


Para além da existência de doença cardiovascular se associar a maior risco de morte nos infetados com o vírus SARS – CoV-2, também a COVID-19 causa com frequência várias complicações cardiovasculares, nomeadamente, miocardites, arritmias, trombo-embolismo e até enfartes do miocárdio. Por outro lado, alguns dos fármacos que estão a ser utilizados no tratamento da Covid-19 podem ter efeitos secundários cardiovasculares, tais como, provocar ou agravar a insuficiência cardíaca, prolongar o intervalo QT, causar arritmias, etc. Portanto, pelo facto de ser doente do coração, no caso de contrair a COVID.19, está em risco de ter uma infeção mais grave.



Se o doente estiver a tomar medicamentos para a sua doença cardiovascular, não deve, em caso algum, parar a medicação sem consultar o seu médico, pois caso contrário a sua situação clinica pode agravar-se. Os fármacos cardiovasculares nomeadamente para a insuficiência cardíaca, patologia cada vez mais frequente, são muito importantes, pois reduzem significativamente a mortalidade e melhoram a qualidade de vida. Estes doentes devem ter cuidados redobrados em evitar a ingestão excessiva de líquidos e não tomar fármacos anti-inflamatórios não esteroides, sobretudo se forem hipertensos.



Lembramos que os doentes com insuficiência cardíaca são dos mais vulneráveis ao vírus pelo que para minimizar o risco de infeção, devem fazer cuidadosa higiene das mãos, praticar distância social, usar a máscara em ambientes fechados e ficar em casa, o mais tempo que puderem.



Embora seja normal que os doentes se sintam ansiosos com o risco desta infeção, é da maior importância, como já dissemos, manter um bom estilo de vida. Fazer uma alimentação saudável, praticar exercício diário, não fumar, dormir o suficiente e procurar reduzir o stress, aumenta a resistência ao vírus e é fundamental também para reduzir o risco de um conjunto de doenças, nomeadamente as cardiovasculares, que são responsáveis por um número de mortes muito superior à COVID -19. Não é demais insistir que, no caso de contrair a infeção, estar o mais saudável e controlado possível da sua doença cardiovascular, ajuda a resistir melhor ao vírus, pelo que deve continuar a tomar a medicação e visitar o médico com a mesma regularidade que faziam antes da pandemia surgir.



Para terminar, lembre-se que, pelo facto de haver uma pandemia de COVID-19, não vão deixar de continuar a ocorrer enfartes do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.

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