HISTÓRIA "Motins em Vizela e Tagilde"

 


Jornal O Pharol do Minho, nº 23, segunda feira, 3 de abril de 1853.


(PESQUISA DE ANTÓNIO CUNHA)

No dia 29 de março de 1854, um grupo numeroso de mulheres e alguns homens, destruíram uma fábrica de destilação de vinho localizada em Tagilde.

“MOTINS EM VIZELLA E TAGILDE.

No dia 29 do passado mêz, reuniram-se tumultuariamente nas Caldas de Vizella, concelho de Guimarães, umas 200 pessoas, quasi tudo mulheres, e só uns 40 a 50 homens, e destes 20 a 30 armados; e dalli partiram a esperar uns 20 carros, que conduziam cascos vazios, e que pela estrada do Porto se dirigiam à freguesia de Tagilde, para carregar aguardente; o que os amothinados pretextavam querer embaraçar. 

Encontraram com efeito os ditos carros, e sem que offendessem os carreteiros, ou prejudicassem os carros e as juntas de bois, que os conduziam, quebraram todos os ditos cascos vazios.

Em seguida marcharam para a freguesia de Moreira de Cónegos, fizeram tocar os sinos a rebate, e reunindo-se-lhe mais algumas pessoas, partiram para a freguesia de Tagilde, onde destruíram completamente a fabrica de distillação de vinho, que alli existia.

Neste entretanto, o administrador do concelho de Guimarães, sendo avisado da tumultuaria reunião em Vizella, requisitou 60 bayonnetas de caçadores 7, e partiu imediatamente a fim de dispersar os amotinados, e prevenir a destruição da fábrica; ao que infelizmente não pôde obstar, pois quando chegou ao sítio, já o facto vandálico estava consumado. Pôde com tudo hir no alcance dos criminosos, e capturar alguns, tendo-se os outros dispersado, á aproximação da força.

O digníssimo comandante de caçadores 7, o snr. Ilharco, sempre zeloso a bem do serviço, e da ordem, e querendo prevenir, com a prudência que lhe é própria, quaisquer outras más intenções dos amotinados, tinha mandado em seguida da primeira força, outra de 40 bayonetas. Felizmente não foi necessário empregar mais fortes demonstrações de rigor; e tudo entrou na ordem.

O exc.mo governador civil logo que lhe constou dos primeiros acontecimentos, mandou tomar todas a providências, e expediu todas as ordens, em tais casos indispensáveis, e a justiça tomando conta dos criminosos que foram conduzidos para Guimarães, acclarará o negócio; e talvez as suas ramificações; pois devemos notar que grande parte dos amotinados eram, segundo consta, dos concelhos de Felgueiras e Louzada, do districto do Porto.

Este mesmo incidente é referenciado num diálogo entre o Mestre Ambrozio e a Tia Michaella, publicado no jornal O Periódico dos Pobres, Rio de janeiro, sábado 13 de maio de 1854, fala-nos em desacatos ocorridos em Vizela. Segue-se a transcrição do texto: ()  Mestre Ambrozio, lembre-se que está na minha presença; nós mulheres também temos direito a aprovar ou reprovar; essas 200 mulheres que se reunirão, no concelho de Vizella, e quebrarão completamente a fábrica de destilação de vinho que ali existia, é porque se achavão no seu direito, e não querião injustiças ().

Em 1888, volta a surgir uma nova fábrica de licores em Vizela, como nos diz o jornal Commercio do Minho de 31 de janeiro de 1888. 

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