Fábrica BOMDIA a passar maus dias


(Vídeo) Fundada em 1933 a Fábrica de Tecidos de Viúva de Carlos da Silva Areias, mais conhecida por Felpos BOMDIA, sediada à saída da cidade de Vizela, está insolvente com 2,3 milhões de euros em dívidas. 



Alguns trabalhadores, tristes e revoltados, revelam ter três meses de salários (incluindo março) em atraso mais o subsídio de Natal. No final da semana passada, 36 dos cem operários da empresa, alguns com ligação muito antiga à empresa vizelense, receberam, inesperadamente, cartas de despedimento e as lágrimas correram pela face daqueles que falaram à reportagem da CMTV (ver vídeo, Jornal da Tarde de hoje, 2 de Abril).

A empresa, que diz ter bons clientes, culpa a Covid 19 e a guerra Ucrânia-Rússia, que fez disparar os precos energéticos "numa altura em que a BOMDIA estava a recuperar da crise lançada pela pandemia em 2019, e de forma a debelar a situação pede, no Plano de Recuperação, mais tempo "pois caso se afunde de vez outras micro-empresas sucumbirão como em bola de neve" - refere o documento. 




(...)

Plano de recuperação (excerto)


PROCESSO INSOLVÊNCIA – PROC. Nº 978/23.6T8GMR - "FÁBRICA DE TECIDOS DE VIÚVA DE CARLOS DA SILVA AREIAS & CIA S.A.”

5 | Plano de Recuperação – Versão Preliminar

Notas Prévias

A presente proposta de satisfação de credores é da exclusiva responsabilidade da empresa, assume caráter preliminar, resultando, nesta fase, apenas e tão-somente da avaliação da sua capacidade em libertar meios financeiros e das sugestões oferecidas pelos credores durante o plano especial de revitalização que decorreu.

O plano aqui apresentado, nomeadamente as projeções financeiras assim como a proposta de plano de pagamento aos credores apresentam-se, por isso mesmo, meramente indicativas e preliminares. 

No sentido do cumprimento dos prazos do Processo de Insolvência, este Plano de Recuperação foi elaborado com os dados contabilísticos e elementos disponíveis na presente data.

O plano de recuperação final será o que vier a resultar da negociação com os credores, sempre tendo por base a performance da empresa que a Administração perspetiva ser capaz de alcançar para futuro.


1. INTRODUÇÃO

1.1. Identificação da devedora

 Empresa: FÁBRICA DE TECIDOS DE VIÚVA DE CARLOS DA SILVA

AREIAS & CIA., S.A

 NIPC: 500104700

 Cap. Social: 2.250.000 EUR

 Estrutura Jurídica: Sociedade anónima

 Data de Constituição: 1968-05-29 | C.R.C. Vizela

 CAE Principal: 13201 – Tecelagem de fio do tipo algodão

 Sede: Lugar da Aldeia de Baixo Aptd. 86 | São Miguel das Caldas | 4815-433 VIZELA

 Objeto social: Indústria de tecelagem e acabamentos têxteis.

 Administração: José Paulo Pacheco e Freitas Gonçalves e Alexandrina

Maria Ferreira de Lemos

 Contactos: Telefone: 253489300

Fax: 253585260

E-mail: adm@bomdia.pt

1.2. Dados do processo

 Tribunal Judicial da Comarca de Braga - Juízo de Comércio de Guimarães - Juiz 2

 Processo: 978/23.6T8GMR

 Administrador da Insolvência: Dr. António José Leal Carneiro

o Endereço: Rua João das Regras, 284, Sala 110, 4000-291 Porto

 Contactos:

 Tel. +351.918474343 / +.351.224860121

 E-mail: antonio.j.carneiro@aj.caaj.pt 

 Datas do processo

o Data de sentença de declaração de insolvência: 24.02.2023

o Data de publicação anúncio no portal Citius: 27.02.2023

o Prazo para reclamação créditos: Até 24.03.2023

o Data da assembleia de credores: 11.04.2023

 Iniciativa do Processo de Insolvência: Resulta da prévia apresentação a Processo 

Plano Especial de Revitalização (6197/22.1T8GMR) o qual, pelas razões expostas pela Devedora a fls… dos autos, em 13-02-2023, foi convolado em processo de insolvência, mantendo esta a administração da empresa sujeita à apresentação do presente Plano de Recuperação.


2.1. Apresentação da devedora

A empresa FÁBRICA DE TECIDOS DE VIÚVA DE CARLOS DA SILVA AREIAS & CIA S.A, 

doravante BOMDIA, requerente ou devedora, resulta de uma enorme paixão e dedicação de uma família aos têxteis-lar a qual perdura há 4 gerações e que, juntamente com uma equipa de excelência, garantem que cada um dos nossos produtos seja tratado de forma excecional.

Fundada em 1933, a Fábrica de Tecidos de Viúva de Carlos da Silva Areias & Cª, mais conhecida por BOMDIA, sobreviveu à II Guerra Mundial, passou a ditadura em Portugal e resistiu às convulsões pós 25 de Abril. Em 1973, devido ao sucesso obtido, tornou-se necessário aumentar a capacidade laboral e produtiva. É neste ano que se dá a transferência das instalações para o amplo espaço atual.

É no design que a empresa se distingue, assim como na capacidade de rapidamente responder aos pedidos ao «entregar numa semana em qualquer parte do mundo, o que nos obriga a ter um stock de 400 ou 500 toneladas». 

Na BOMDIA prestam-se serviços de tecelagem, tinturaria, torção e bobinagem, colocando ao serviço de outras empresas as nossas máquinas e toda a técnica e 

conhecimento que os nossos colaboradores adquiriram ao longo de vários anos de trabalho.

Actualmente, em laboração continua, a empresa tem um capital social de 2.250.000€ e continua a ser detida pela 3ª geração da família do fundador. Note-se contudo que, em

resultado da deliberação da Assembleia Geral de Acionistas, realizada em 10 de Novembro de 2003, foi adquirido, naquele ano de 2003, um lote de 45.000 ações de valor nominal de € 5.00 cada, pelo preço global de 1.500.000 Euros; Os fundamentos que serviram de orientação para esta aquisição foi a sua oportunidade, não havendo, entre os acionistas, qualquer preferente, tendo-se evitado, desta forma, que pudesse vir a ser adquirido por pessoa ou entidade estranha à sociedade.

A BOMDIA vive atualmente uma situação de desequilíbrio financeiro que decorre da conjugação simultânea de vários fatores, uns exógenos (externos) e outros endógenos (internos) à sociedade. 

Esta situação difícil viu-se ampliada pelo impacto mundial da pandemia COVID19, mormente pela incerteza que trouxe a todos os setores económicos. Em 2022 – e quando se começavam a normalizar os constrangimentos causados pela pandemia – tivemos o impacto inesperado causado pela guerra da Rússia na Ucrânia que potenciou o aumento dos preços da energia, levando a inflação a atingir níveis recorde com fortes repercussões na planificação produtiva e na política de preços a seguir.

A devedora não ficou imune a estes constrangimentos. 

Por estes motivos, a empresa recorreu ao Processo Especial de Revitalização que correu termos sob o n.º 6197/22.1T8GMR do Juiz 2 do Juízo do Comércio de Guimarães. 

Apesar das dificuldades foi reestruturando a sua atividade, reduzindo custos, procurando novos segmentos de mercado em particular fora do mercado nacional, no sentido de manter a sua atividade. Pois é verdade que: (i) a devedora continua a laborar, 

(ii) dispõe de um conjunto de ativos que lhe permitem produzir, (iii) dispõe de um leque adequado de clientes.

Todavia, sem uma reestruturação global da sua dívida estas dificuldades têm-se revelado inultrapassáveis e conduzido a uma crescente deterioração da sua situação 

económica.

O mero encerramento de uma empresa sem liquidar as suas dívidas irá arrastar outras para igual situação numa bola de neve que só irá parar ou com a criação de novas 

empresas que ocupem o nicho daquelas que morrem ou com a reestruturação das já existentes em moldes que lhe permitam enfrentar estes desafios com uma situação 

financeira saneada. Note-se, no entanto, que o know-how de gestão de crises é fundamental para afrontar estes tempos. As incertezas provocadas pelo Covid 19 e pelo 

reaparecimento de fortes pressões inflacionistas – que afetaram seriamente o tecido industrial - permitirá, por outro lado, às empresas que estiverem reestruturadas e que merecerem o apoio dos seus credores, aproveitarem as oportunidades que sempre surgem nas alturas de turbulência dos mercados.

Continua, pois, a ser intenção e vontade da devedora o alcançar um acordo com os seus credores que permita que todos eles fiquem numa situação melhor que aquela que resultaria da liquidação da empresa. Em face disso, no presente momento, a devedora necessita de tempo e de mais uma oportunidade para negociar com os seus 

stakeholders, com vista a ajustar o plano e a encontrar soluções concertadas para os problemas económicos que a afetam de modo a assegurar a sua efetiva recuperação.

A devedora entende assim que a solução mais adequada à resolução das suas dificuldades económicas atuais, à satisfação dos seus débitos junto dos credores e 

demais stakeholders e ao restabelecimento de uma situação financeira equilibrada e saudável é a adoção de um plano de recuperação.

2.2.2. Causas da situação atual 

A situação de desequilíbrio financeiro é ocasionada pela incapacidade atual da BOMDIA em gerar os meios monetários necessários para fazer face aos compromissos assumidos - em valor e em prazo – e decorre da conjugação simultânea de vários fatores, uns exógenos (externos) e outros endógenos (internos) à sociedade. 

2.2.2.1. Empresa

De um ponto de vista endógeno e estrutural, as dificuldades sentidas pela devedora encontram as suas causas nas situações verificadas nos anos de 2020 e 2021 derivadas do impacto pandémico do COVID 19 e do renascer das pressões inflacionistas que se agravaram com o conflito que se verifica na Ucrânia.


2.2.2.1.1. – Ano de 2020

O ano de 2020 ficou marcado pela pandemia COVID-19, que afetou de forma abruta a generalidade dos países em 2020. Os negócios sofreram um grande impacto no seu 

crescimento e na sua rentabilidade, o que levou a níveis de recessão global que não eram atingidos desde a Segunda Guerra Mundial. Consequentemente, e face à área de atuação, as vendas da empresa foram fortemente afetadas registando uma quebra de 

volume de negócios de 29%, cifrando-se o volume negócios em 3.121.803,42€. Pela sua imprevisibilidade a empresa não conseguiu reestruturar-se tão rapidamente como o mercado exigia pois mantinha estrutura produtiva e custos fixos muito pesados para o que se veio a revelar a realidade do mercado.

A empresa, que em 2019 tinha conseguido a inversão de resultados negativos do anterior triénio e a obtenção de resultados positivos, viu-se impactada pela estratégia já

iniciada em anos anteriores, nomeadamente o reposicionamento da sua oferta no mercado, acentuando a evolução da sua atividade para segmentos de clientes “private label” de valor acrescentado e com elevado potencial de crescimento, reduzindo a exposição ao desenvolvimento e comercialização da marca BOMDIA, caraterizada pelas necessidades de criação, desenvolvimento e produção de coleções extensas, com 

significativo impacto em necessidades de stockagem, maior logística, clientes de pequena dimensão, etc.

Assim, e dadas as circunstâncias foi "obrigada" a administração a recorrer na fase inicial ao lay-off para os funcionários de forma a poder sobreviver às baixas encomendas que se faziam chegar. Com o evoluir da pandemia, e entrando os mercados em fase de 

desconfinamento, foi sendo reduzido o número de pessoas em lay-off pela chegada de um maior número de encomendas.

Contudo, e no global, se as vendas registaram uma quebra de 1.166 milhares de euros face a 2019, o EBITDA foi negativo em -412.916,55€, não tendo sido os apoios a que recorreu por parte do estado (recurso a lay-off) suficientes para atenuar a perda de rentabilidade associada à quebra de vendas e custos associados à inoperacionalidade do período.

2.2.2.1.2 – Ano de 2021

Analisando o ano de 2021, podemos verificar que houve uma melhoria significativa em relação ano anterior, mas com contratos e preços que se degradaram e não 

acompanharam o aumento de preços das matérias primas, gaz e eletricidade que já então pontuavam. Apesar da correção conseguida no último trimestre do ano, os galopantes aumentos dos preços das matérias primas, gaz e eletricidade não permitiram inverter o ciclo dos prejuízos que vinham dos meses anteriores. 

2.2.2.1.3 – Ano de 2022

Com o balancete de fecho do ano já disponível é possível verificar que a empresa foi extremamente impactada pela subida dos custos com FSE’s (em específico nas rubricas de energia e combustíveis que passaram de 284 mil euros em 2021 para 600 mil euros em 2022) e não conseguiu reduzir ainda os encargos fixos (mormente custos com pessoal) para um nível confortável que lhe permita ultrapassar períodos mais voláteis em termos de faturação.

O volume de negócios voltou a cair (3,0 milhões de euros) sendo que o impacto do segundo semestre foi bastante penalizador pois a empresa levava um volume de 

negócios de 1,9 milhões até julho conforme se indicava no PER. O recurso a esta prerrogativa – essencial para a recuperação da sociedade – tem consequências e, como na altura se indicou, obriga a uma "luta" pela sobrevivência diária que passou a absorver quase todo o tempo e recursos dos administradores da empresa.

2.2.2.2. Setor

De um ponto de vista exógeno, conjuntural e ou de mercado, as dificuldades sentidas pela devedora encontram também causa ou justificação, designada, mas não exclusivamente, nos tempos conturbados da economia mundial e que se repercutem no setor. (...)


LISTA PROVISÓRIA DE CREDORES 

(Cedida pelo Sindicato)




















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