Água bendita

Imagens do Ribeiro de Sá, que vindo de Santa Eulália (antes por Lustosa) desagua no Rio Vizela junto à Marginal Ribeirinha. Imagens colhidas no sábado. 


JÁ O TEMPO SE HABITUA 

A estar alerta não há luz

Que não resista à noite cega

Já a rosa perde o cheiro

E a cor vermelha cai a flor

Da laranjeira à cova incerta

ÀGUA mole àgua bendita

Fresca serra lava a língua

Lava a lama lava a guerra

Já o tempo se acostuma

À cova funda já tem cama

E sepultura toda a terra

Nem o voo do milhano

Ao vento leste nem a rota

Da gaivota ao vento norte

Nem toda a força do pano

Todo o ano quebra a proa

Do mais forte nem a morte

Já o mundo se não lembra

De cantigas tanta areia

Suja tanta erva daninha

A nenhuma porta aberta

Chega a lua cai a flor

Da laranjeira à cova incerta


Entre as vilas e as muralhas

Da moirama sobre a espiga

E sobre a palha que derrama

Sobre as ondas sobre a praia

Já o tempo perde a fala

E perde o riso perde o amor.

JOSÉ AFONSO 


 

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