Em sociedades democráticas, o princípio da maioria é fundamental para garantir decisões coletivas. No entanto, quando uma maioria se torna esmagadora, seja no parlamento, nas urnas ou no discurso público, surgem riscos sérios para a pluralidade e o equilíbrio de poder.
Maiorias esmagadoras tendem a reduzir o espaço para o contraditório. Quando uma visão domina quase completamente o debate público ou o sistema político, ideias divergentes são facilmente marginalizadas, deslegitimadas ou até reprimidas. Isso compromete a saúde democrática, que depende do confronto constante entre diferentes perspectivas.
Além disso, uma maioria esmagadora pode corroer contrapesos institucionais. A tentação de governar sem concessões, aprovar reformas sem diálogo ou enfraquecer instituições fiscalizadoras cresce proporcionalmente ao poder concentrado. A história mostra que regimes autoritários muitas vezes emergem de contextos em que maiorias dominantes se tornam intolerantes à oposição.
Na sociedade, o mesmo perigo repete-se. Quando uma ideia, um valor ou uma posição política se impõe como “a verdade” aceite por todos, quem pensa diferente é facilmente rotulado como inimigo, traidor ou ignorante. Esse clima sufoca o debate público e alimenta a intolerância, promovendo uma cultura de cancelamento ou repressão silenciosa.
Não há liberdade se não há espaço para a divergência, se os diferentes são invisibilizados ou perseguidos, ou se o poder é exercido sem limites. Maiorias devem governar, sim, mas com responsabilidade, respeito pelas instituições e abertura ao diálogo. A alternância de poder e o contraditório são garantias fundamentais contra os abusos e os retrocessos. Quando a maioria se torna esmagadora e surda ao outro, ela já não representa a democracia apenas o poder cru.
Portanto, a democracia não deve ser medida apenas pela vontade da maioria, mas pela capacidade de proteger o direito de discordar. O verdadeiro teste de maturidade democrática está em como tratamos as vozes dissonantes, não em como celebramos os consensos.
Em suma, maiorias são legítimas, mas esmagadoras, podem-se tornar perigosas. O equilíbrio entre governabilidade e diversidade é o que sustenta uma democracia viva e justa. Liberdade sempre.
Ricardo Fernandes
Presidente do IL-INICIATIVA LIBERAL Vizela