A Prisão do Padre Tati em Cabinda

A presente nota é escrita a título pessoal e não vincula a Nova Democracia, partido político, de que sou filiado. MANUEL MONTEIRO



A presente nota é escrita a título pessoal e não vincula a Nova Democracia, partido político, de que sou filiado

1. Tomei conhecimento, no passado sábado, da prisão do Padre Raul Tati, ex - Vigário - Geral de Cabinda. Segundo notícias difundidas pesará sobre si a acusação de crime cometido contra o Estado de Angola. Penso estarmos perante uma de duas situações: ou um profundo equívoco ou uma demonstração de força desajustada, perante um homem cuja acção se tem pautado pela defesa dos direitos humanos.

2. Aproveitar um acto condenável, como aquele que vitimou cidadãos da selecção de futebol da República do Togo, para exercer represálias contra quem pensa de forma diferente, e nenhuma ligação tem com esse acto, é uma atitude que deve merecer inequívoca condenação das autoridades portuguesas. Pretender silenciar, ou até eliminar, quem exerce direitos consagrados na Carta das Nações Unidas é um exercício de desrespeito total pelos valores da liberdade de expressão.

3. Nenhum Estado por muito forte e poderoso que se considere pode atentar contra as mais elementares regras das normas internacionais, se quiser ganhar o respeito dos Povos e a consideração das gerações vindouras. Diante esta arbitrária prisão estranho que nenhum partido político português, com representação parlamentar, tenha até ao momento tomado uma posição pública de condenação. As amplas ligações económicas e financeiras entre Portugal e Angola, não podem ser alibi, sequer justificação, para que nada seja dito, para que nada seja perguntado.

4. Já sabemos que no plano das relações internacionais reina o primado do cinismo e que as considerações de justo ou injusto dependem das épocas, das circunstâncias e até dos interesses materiais, mas há limites que não podem ser ultrapassados. Portugal deve pedir a imediata libertação do Padre Raul Tati. E deve fazê - lo em nome daquilo que diz defender e acreditar interna e externamente: o Direito à diferença.

Manuel Monteiro

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