Vizelense infetada fala ao Digital de Vizela


O DIGITAL DE VIZELA apresenta uma entrevista exclusiva com uma vizelense que contraiu o novo coronavírus covid 19, pandemia que mantém o mundo alarmado e que já matou mais de 150 mil pessoas em todo o mundo e em Portugal matou 687 e conta com 19.685 infetados. Em Vizela há a registar e a lamentar uma morte enquanto 62 pessoas recuperam de ter contraído este vírus segundo os dados divulgados às 19h30 de ontem pela ACES.

Nesta entrevista o ddV procura saber como é a vida entre quatro paredes duma (boa) pessoa que foi infectada e ao mesmo tempo elucidar aqueles que possam necessitar de alguma informação de quem fala por experiência própria. Por ultimo um agradecimento muito especial a esta pessoa corajosa que aceitou o nosso convite para falar e a quem garantimos o seu anonimato.

ddV - Quando e como soube que tinha contraído a covid 19?
DOENTE - Em Março recebi o resultado positivo, dois dias depois de ter realizado a análise.

- Que sintomas tinha?
- Tinha dores fortes de cabeça, nos olhos, musculares, fraqueza e febre.
No terceiro dia fiquei sem olfacto (cheiro) e sem paladar.

- Onde fez o teste?
- Fiz no hospital de Guimarães. Senti um pouco de febre, o que não era norma, e desloquei-me de imediato lá.

- Qual foi a sua primeira reação quando soube que o teste dera positivo?
- Fiquei muito assustada e preocupada com os sintomas que poderia vir a ter e que o vírus a cada dia que passasse se tornaria pior.

- Teve muito medo?
- Muito medo mesmo. Felizmente tenho uma familiar enfermeira a quem na ida para o hospital, depois de saber o resultado, pedi informações e ela foi me tranquilizando.

- O que lhe disse essa sua familiar enfermeira?
- Disse-me para eu estar tranquila e para eu levar este vírus como se fosse uma gripe e cumprindo as orientações dos médicos.

- Nestes dias de isolamento ainda tem medo ou acabou por ultrapassar a situação embora cumprindo as normas?
- Quando deixei de ter febre fiquei mais tranquila, mas estando 24horas fechada num quarto acabamos por ter sempre medo que isto não acabe e torna-se difícil esquecer o que estou a passar.

- Quando lhe informaram que era positivo deram-lhe algumas palavras de conforto e orientação?
- Sim, muito. Agradeço a todos os profissionais, principalmente aos que todos os dias me ligam para saber como estou a reagir e para saberem os sintomas que tenho tido a cada dia e se tenho melhoras.

- Quem lhe disse (não ponha nomes) como devia cumprir o isolamento?
- Antes de saber o resultado a minha prima (enfermeira) foi-me pondo a par de tudo o que tinha de fazer e entretanto quando me ligaram a dizer o resultado a médica que me acompanhou deu-me as indicações todas que tinha de seguir até fazer os próximos testes.

- Receitaram-lhe algum medicamento?
- Sim, receitaram apenas bem-u-ron.

- Onde está em isolamento?
- Estou a fazer o isolamento em minha casa.

- Que familiares estão a apoiá-la?
- O meu namorado acabou por se isolar também por prevenção, então a minha sogra é que nos dá as refeições.

- As pessoas que estão consigo como se protegem?
- Eu estou isolada no quarto com a casa de banho só para mim e não estou em contacto com ninguém. De qualquer maneira cada um dos familiares tem as suas protecções de segurança.

- Em relação aos objetos, como a louça, talheres e outros, que cuidados há de forma a não transmitir o vírus?
- As minhas refeições são servidas à porta do quarto onde eu desinfecto sempre as mãos e coloco a máscara para ir buscar e é tudo em pratos e talheres de plástico. Depois de utilizados coloco num saco para eles depois, com luvas, devidamente protegidos,o levarem para o lixo.

- No seu isolamento como passa o tempo?
- As duas primeiras semanas foram complicadas pois não saía da cama e só via televisão (séries). Entretanto comecei a ficar melhor psicologicamente e comecei a mexer-me dentro dos possíveis pois não tenho muito onde passar o tempo e mesmo as pernas não se aguentavam muito tempo de pé. Sem dúvida que as chamadas de familiares e amigos ajudaram muito a passar umas boas horas durante o dia. Agora convivo melhor com o problema.

- É acompanhada pelo médico de família via telemóvel?
- Sim, ligou-me logo que soube da situação e tem-me acompanhado através de telefonemas.

- Quantas vezes por dia recebe as chamadas e qual as perguntas que lhe faz?
- Nas primeiras semanas ligaram-me vários médicos. Ultimamente liga-me só a médica que me está a acompanhar para saber a minha temperatura e os sintomas que tenho.

-Antes de fazer o teste via notícias sobre o desenvolvimento da pandemia aqui na região, no País e no mundo?
- Estive sempre a par das notícias até que na semana anterior de ter os sintomas eu já não saía de casa e nem horas extras estava a dar no trabalho, era mesmo só casa e trabalho.

- O que mais custou ter deixado de fazer nas suas rotinas diárias?
- Sempre trabalhei 12 horas por dia e acabava por não ter muito tempo para mim, mas sem dúvida que o convívio da minha família e de estar ao ar livre são as coisas de que mais sinto falta.

- Tem alguma ideia como possa ter contraído o vírus?
- Como sempre me preveni, na última semana de saber o resultado deduzo que tenha sido o contacto com alguém da empresa onde trabalho pois a minha família está bem de saúde e não transmitir a ninguém o vírus e estava todos os dias com eles.

- Qual é o ponto da situação atual?
- Estou há 27 dias isolada porque não havia vagas para os testes e ontem e hoje já os fiz agora é só aguardar pelos resultados que devem chegar dentro das próximas horas. Também sei que terei de fazer dois testes e que os dois terão de dar negativos. E a partir daí, sim, já posso voltar à liberdade e ao trabalho apesar da minha empresa ter entrado em lay off.

- Que conselho gostaria de deixar às pessoas que estão a ler esta entrevista?
- Todo o cuidado é pouco pois o vírus não se vê e em qualquer lugar ou pessoa pode ser transmitido. O conselho que deixo é se puderem fiquem em casa, evitem mesmo sair, neste momento a nossa casa é o lugar mais seguro.  
ddV

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