CASTELO: Mito ou Realidade?

Durante décadas tem-se falado e escrito que construção do Castelo da Ponte (pertença da Câmara de Vizela) teve o fim específico de ser uma sede municipal. Não há nenhum vizelense que não tenha ouvido falar ou lido sobre isto. Mas há (poucos) quem ponha em causa se a construção do monumental prédio de 1905, onde funcionou um espaço de diversão e jogo (Mourisco Club) e depois um externato e mais recentemente serviu de habitação a caseiros e armazém de vinhos, visou a pretensão municipalista.

Afinal onde estão os elementos que confirmam que Armindo Ribeiro de Faria construiu (a expensas próprias) o vetusto edifício? Não deixa de ser curioso, independentemente do jornalismo cor de rosa da época, que o único jornal de Vizela que se publicava em 1904 e 1905, o Echos de Vizella, não tenha uma única referência à construção do Castelo da Ponte e tenha publicado várias pequenas notícias de carácter social sobre Armindo Ribeiro de Faria (como as suas viagens à Póvoa, uma gripe que curou na sua casa em Regilde, etc.). O mesmo jornal, dessas edições consultadas, também não tece qualquer referência à luta autonómica dos vizelenses...

AD PERPETUAM
A resposta mais cabal pode ser encontrada no livro Ad Perpetuam (esgotado) publicado em 1965 por Francisco Armindo Pereira da Costa (JULIO DAMAS) sendo exato que o fundador do extinto Notícias de Vizela teve acesso aos únicos documentos que estiveram em posse de Armindo Ribeiro de Faria. Espólio que se perdeu com a morte de Francisco Costa e que terá ficado sobre a posse da Junta de Freguesia de S. Miguel e daqui terá ido para o lixo como foram tantos documentos da história de Vizela.
Francisco Costa não teve descendentes o que fez com que o seu património se tenha dispersado. Alias, o Notícias de Vizela quando foi finalmente legalizado, oito anos após a sua morte, já pertencia a cerca de 40 herdeiros espalhados por vários países e concelho sendo a sua legalização uma tarefa hercúlea. 
ARMINDO RIBEIRO DE FARIA
Por outro lado de onde veio a "fortuna" de Armindo Ribeiro de Faria para a construção de tão imponente edifício.  Presume-se que tenha vendido à Companhia de Banhos de Vizela o prédio dos Banhos do Mourisco mas até aqui falta documentação que sustente esta tese.
O resto da história já se conhece: a Câmara de Vizela comprou o Castelo, porém o mesmo continua devoluto e em junho registou um incêndio na ala sul. A sua venda foi colocado recentemente em hasta pública mas não houve interessados até ao momento.
O ddV foi ouvir alguns vizelenses conhecidos pelas suas pesquisas históricas sobre diversas causas vizelenses a quem pediu um comentário sobre a edificação do Castelo.



DRA MARIA JOSÉ PACHECO (historiadora)
Creio que é seguro (dizer que o castelo era para sede municipal), mas apenas sei que a Luísa Vilarinho vai publicar um livro e vai abordar esse tema.


DR. EUGENIO SILVA (Historiador)
Sobre a matéria, o que está disponível é a referencia oferecida por COSTA, Francisco Armindo Pereira da - in - "Ad Perpetuam". Em outubro de 1974, na qualidade de Secretário da C:A da Junta de Freguesia de S. Miguel e de integrante do MRCV, falei com o próprio Francisco Costa sobre o assunto.
Esclareceu-me que a afirmativa se fundamentou no arquivo particular da família do Dr. Armindo de Freitas Ribeiro de Faria, a qual lhe permitiu o acesso e consulta para a citada edição do livro. Embora acredite que alguém com o gosto pela dita História erudita possua muita documentação, desconheço, no presente e em concreto, o paradeiro de tal arquivo. Oxalá assim seja, porque, como bem sabemos, em Vizela há a arreigada cultura de que a documentação histórica é lixo, …No entanto, sugiro - não perdem nada - que contactem a família do ilustre vizelense sobre tal documentação.

Mas que fique bem claro , até porque não há dúvida alguma em relacionar a cronologia dos factos e dos sucessivos acontecimento, que bem estudei para a tese de mestrado que apresentei à Faculdade de
Letras da Universidade do Porto (Cf. SILVA, José … - Vizela, Desenvolvimento e Antagonismos Políticos: as disputas autonómicas da Regeneração à República, 4.3.3 - Petição ao Governo de Luciano de Castro (1905): a construção do "Castelo da Ponte" adveio dessa petição onde se solicita a n/autonomia.
Mesmo que se tome como base a TRADIÇÃO ORAL, transmitida de geração em geração em geração, não custa admitir que ao ilustre médico lhe foi imposta a construção desse edifício para sede do concelho, única forma de retirar argumentos aos n/opositores. E que ninguém ponha em dúvida a
petição de 1905. A correspondência trocada entre ele e o Chefe de Gabinete do Dr. Luciano de Castro, o Dr. Manuel Monteiro, não permite dúvida alguma. A data de licença de construção e o seu término, em 1906, são, também, provas irrefutáveis da necessidade premente de tal edifício. Por outro lado, a estruturação e divisão dos diversos compartimentos do imóvel, mostram, claramente, os fins e objetivos de edificado com vocação de utilitarismo público.

ENG. ADELINO CAMPANTE (Pesquisador amador)
O Dr. Armindo era pessoa influente. Estava convencido que conseguiria o concelho e construiu o Castelo. Antes não devia publicitar para não alertar Guimarães. Publicitar depois seria reconhecer o falhanço. Mais tarde foi Governador Civil de Braga.
Toda a minha vida ouvi que o Castelo seria para a Câmara e ninguém minha geração punha isso em dúvida. Só esta gente nova, que não chegou fazer tropa, é que não tem memória histórica.
O livro Ad Perpetuam, de que junto cópia de duas páginas, esclarece sobre o assunto. Ofereci um exemplar à Biblioteca de Vizela.





JÚLIO CÉSAR FERREIRA (Pesquisador amador)

A única coisa que encontrei até hoje está escrita no livro Ad Perpetuam e que diz:
"O Ilustre Médico e Bairrista Vizelense Dr. Armindo de Freitas Ribeiro de Faria, e ainda outros Vizelenses, firmados em promessas de políticos amigos seus, esboçaram o 3.° pedido de independência em 1905.
Fora imposta a construção da futura sede do novel concelho. Deste modo o Dr. Armindo de Freitas R. de Faria, comprometendo a sua fortuna pessoal, mandou construir o edifício que serviria de Paços do Concelho, o Castelo da Ponte, corno o vulgo ainda hoje o conhece. Ficou concluído em 1906 e tem, ainda hoje, capacidade suficiente para abrigar todas as repartições necessárias a uma Câmara, Fazenda, Tribunal, Polícia, etc. Nos baixos do mesmo edifício ficariam instalados depósitos, garagens, armazéns, habitações, etc.
Custou essa construção ao preclaro vizelense 60 contos ouro, e, na parte superior 1º,  2º e 3.° andares do torreão, está actualmente instalado o Externato deVizela".
Na obra citada, Júlio Damas, diz - nos que este edifício foi construído para ser
sede do concelho e que a sua construção tivera inicio em 1905. Li e consultei diversa
documentação sobre este "Castelo" e vi algumas reticências acerca do tempo de
construção, (somente um ano) o que, de facto, me parece manifestamente pouco tempo,
para construção de obra tão imponente. Nada mais li e nunca encontrei outros dados sobre esta matéria à época.

ANTÓNIO CUNHA (Pesquisador amador)
Nas minhas pesquisas ainda não consegui encontrar, embora já procurasse, algo de concreto sobre a construção do Castelo. Em tempos surgiu-me uma escritura da compra de um terreno no Mourisco mas em nome do pai de Armindo Ribeiro de Faria que o terá doado depois ao filho. Poderá ser o terreno onde foi construído o Castelo. As minhas pesquisas vão continuar e certamente encontrarei algo mais. Mas é provável que Armindo Ribeiro de Faria, que foi vereador municipal em Guimarães, não quisesse despertar o "inimigo " e tudo tenha sido avançado no maior secretismo.

CASTELO DA PONTE EM VIZELA: Urbanismo, Urbanidade e Desígnio
ALEXANDRE REIS


Castelo da Ponte | Vizela, Portugal
CARLA RIBEIRO

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