O Altar Mor de S. João das Caldas (2ª Parte)

As voltas da História, o eng. Adelino Campante conta o percurso do atual Altar Mor da igreja de S. João das Caldas desde o Porto, de onde veio, até Vizela, onde está.


A Igreja de S. João das Caldas

A Igreja Paroquial de S. João ficava situada na margem esquerda do Rio Vizela. Em 1725, no reinado de D. João V, com o ouro e os diamantes do Brasil, assim como em muitas outras terras, foi construída uma nova igreja na margem direita do Rio Vizela. Deve ser também dessa altura de esplendor, pela construção de Igrejas e Mosteiros que deve datar a criação do Passal.
Nos finais do século XIX, a Igreja de S. João, em estilo Joanino (de D. João V) simples, além do seu mau estado já não conseguia albergar o número crescente de fiéis e muito menos na época balnear.
Já em 1877 o Engº Cesário Augusto Pinto (CAP), projetista do Estabelecimento Termal, tinha oferecido um projeto para uma nova Igreja de S. João (Pesquiza de António T. M. da Cunha).
A construção da nova igreja foi iniciada em 1904, no tempo do Padre José Félix Gomes (Ferreira, Júlio César - Paróquias e Abades S. João, artigo recente JRV). e benzida, faltando ainda a Capela Mor, em 7 de Novembro de 1909.

Por lá passaram depois os Padres António José Correia, João Gonçalves (que me batizou) e Albano da Silva Freitas a partir de 1947.

Por 1970, o Altar Mor, que não tinha ainda muitos anos, sofreu um incêndio e ficou inutilizado. Foi então construído um novo Altar Mor.

No dia da Comunhão Solene

No dia 18 de Junho de 1972, domingo, celebrava-se a Comunhão Solene em S. João das Caldas.

A cerimónia, habitualmente associada ao dia do Padroeiro que nesse ano calhou a um sábado, foi antecipada. Era um dia festivo, com missa cantada. Uma procissão, com a habitual Cruzada a abrir, seguida dos Comungantes, Irmandades com as suas bandeiras, o Pálio e muitos acompanhantes seguia pelas ruas Joaquim Pinto, Elias Garcia, Praça da República, ruas da Rainha (Pereira Caldas) e Dr. Abílio Torres. Na época o pároco de S. João realizava muitas procissões, era a de S. Sebastião, pelos militares no Ultramar, as habituais de Páscoa, a de Ramos no respetivo domingo, a Procissão aos doentinhos, na quinta feira, a do Encontro em que saíam duas procissões que se encontravam na rua Dr. Alfredo Pinto e na sexta feira a do Enterro do Senhor. Havia outra procissão em meados de agosto pela N. Senhora. Eram bastantes as procissões e temo já não me lembrar de todas.
Em 72 estava a cumprir o Serviço Militar. Já desde 1963 que as minhas passagens por Vizela se resumiam aos períodos de férias e alguns fins de semana.
Quando tive a notícia do sucedido pensei que fosse confusão e se estivessem a referir ao incêndio de dois anos antes.
O nosso amigo Manuel Mendes Marques, da ddV, que fazia a comunhão solene nesse dia, guardou o recorte da Jornal de Notícias de 19 de Junho de 1972, que dava conta do infeliz acontecimento.
Segundo a notícia “O revº Albano da Silva Freitas, pároco da freguesia, motivado pela tragédia que cobriu de luto toda a população sofreu grave colapso, encontrando-se doente”.
Foi então que houve uma inspiração, um telefonema e uma grande decisão. Tudo isto se processou entre o dia 18 e 26 de junho de 1972.
A Igreja de S. João das Caldas ficou desde então com um Magnífico Altar Mor, um conjunto de grande valor Histórico e uma grande atração que ainda não é turística (fosse no Porto e a Douro Azul já tinha providenciado visitas turísticas) mas lá virá o tempo.

O Altar Mor nas 3 Igrejas
Nas duas transladações sofridas o Altar sofreu trabalhos de restauro e algumas alterações para se adaptar ao espaços existentes.
Aqui fica a história de como, as especiarias da India, o ouro e diamantes do Brasil, a lei de extinção das ordens religiosas, a chegada do comboio a S. Bento, o projeto demasiado ambicioso da Igreja inacabada de Cedofeita, o incêndio da Igreja de S. João e a amizade entre dois colegas de Seminário, todos estes factos improváveis se congraçaram na vinda de, probabilidade que à partida era praticamente nula, um Altar Mor de grande valor religioso, histórico e turístico, para a Igreja de S. João das Caldas de Vizela-
Assim temos, após várias vicissitudes, as tais voltas da História, um Altar Mor Joanino (D. João V) na Igreja de S. João (Padroeiro).

5 de Julho de 2020
Adelino Campante

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