A homenagem ao meu Pai, embora tardia foi feita em vida, o que me encheu de orgulho e alegria.


António Pedro Moniz (à direita na foto), filho do ex deputado do Partido Popular Monárquico, António Moniz (ao centro), homenageado pela Câmara Municipal de Vizela no último 19 de março, publicou nas redes sociais um artigo a propósito da alegria sentida aquando a homenagem a seu pai que ele acompanhou a Vizela. 



"No passado dia 19 de Março fomos com o meu Pai às comemorações dos 25 anos da restauração do Município de Vizela. A razão pela qual estivemos presentes foi porque o meu Pai ia receber uma medalha de mérito pela Câmara Municipal de Vizela.


À primeira vista pode-se pensar, para quem não se lembra, que a luta pela elevação a Concelho foi coisa simples... mas não foi. Em 1361 Vizela é elevada a Concelho, mas perde passados 47 anos. Vizela fazia parte do Concelho de Guimarães que não a deixava desenvolver, crescer, asfixiava Vizela e não havia qualquer investimento. O Povo de Vizela não suportava esta falta de autonomia, sofria todos os dias com a injustiça, a desigualdade, o totalitarismo de Guimarães.


Era o meu Pai deputado pelo PPM no tempo da AD em 1980, ano da morte de Francisco Sá Carneiro e aparece um grupo de Vizela para falar com o PPM. Este grupo era liderado por Manuel Campelos. Este veio falar do projeto de Vizela e das suas dificuldades estando ligado a Guimarães. Com ele mais alguns Vizelenses do movimento MRCV que lutava pela restauração do município de Vizela. O meu Pai fica de imediato apaixonado pela causa. Visita mais tarde Vizela e conhece o sofrimento e a frustração deste povo que luta por uma justa autonomia. 


Resultado o PPM apresenta um Projecto de Lei de Criação do Município de Vizela já em 1981. A partir daí o meu Pai sempre esteve com o Povo de Vizela, junto com alguns Amigos já antigos que lutavam pela mesma causa e com os amigos da "Pesada". Muitos dissabores trouxe esta causa ao meu Pai. Politicamente conheceu muitos inimigos desta causa.


Entre eles estava Diogo Freitas do Amaral que disse a meu Pai que tinha prometido ao seu falecido Pai que Vizela nunca seria Concelho, por isso "Vizela Concelho só por cima do meu cadáver". O meu Pai sempre com resposta pronta e furioso com aquela afronta responde "pois será então por cima do seu cadáver e terei o cuidado de puxar as calças para cima para não me sujar".

Como devem imaginar o clima era grave e até perigoso, com ameaças de morte à mistura. 


Em cinco de Agosto de 1982 o Povo de Vizela, já farto, resolve dizer chega. A população vira ao contrário a linha férrea em direção a Guimarães e existem vários confrontos com a GNR, resultando alguns feridos. Ninguém percebia o que se passava com "aqueles malucos de Vizela". Nesta altura vão vários jornalistas para Vizela e conhecem as verdadeiras pretensões do Povo, percebem a injustiça e colocam-se ao lado do Povo de Vizela. Lembro-me de visitar Vizela com o meu Pai e sentir a tensão, a emoção de tudo estar a acontecer em direto. As pessoas estavam capazes de tudo. Içam a bandeira dos Estados Unidos como sinal de liberdade e colocam uma forca para os políticos que tivessem a coragem de entrar em Vizela, exepção feita a pessoas como o meu Pai, Manuel Monteiro entre outros.

Mais tarde acontece finalmente uma coisa boa, Guterres promete em Guimarães que se for eleito primeiro ministro o Concelho a Vizela acontece. Esta frase foi muito importante principalmente por ter sido declarada em Guimarães. Mais tarde o jornalista vizelense Hélder Silva pegunta a Guterres, no Europarque numa cimeira europeia, se sempre vai apoiar a subida de Vizela. Guterres volta a trás e diz que vai cumprir a promessa.

Só em 19 de Março de 1998, por desmembramento de 5 freguesias de Guimarães, 1 de Lousada e 1 de Felgueiras, é que Vizela sobe a Concelho. No dia da votação grande parte da população vai para Lisboa e reúne-se em frente à Assembleia. Claro que o meu Pai lá estava no meio dos que gostava com a gravata famosa de Vizela que ainda usa.

Quando a votação é favorável houve uma explosão de alegria, o meu Pai chorava de felicidade junto aos seus Queridos Amigos de Vizela.

A homenagem ao meu Pai foi feita no último19 de Março. Embora tardia foi feita em vida, o que me encheu de orgulho e alegria.

Quando soube que ia ser homenageado pediu companhia dos filhos, pois emoções com 83 anos já não é para brincadeiras. Quis começar por ir à missa, "é aí que vai estar quem interessa, o Povo" disse ao meu irmão. Quando me juntei ao meu Pai vi pessoas desconhecidas emocionadas a agarrar o meu Pai, dizendo "obrigado, obrigado pelo concelho". Pessoas que o meu Pai não conhecia, mas faziam questão de lhe dizerem "sei bem o que fez por nós, sei bem que esteve sempre connosco, nunca o esquecerei". A festa popular continuou e chegou a altura da homenagem. Foi feita num auditório municipal onde estava presente o Ministro da Administração Interna José Luis Carneiro e o actual  Presidente da Câmara Victor Hugo Salgado. Foi homenageado António Guterres com uma estátua de bronze, a Comissão instaladora do Concelho, onde houve uma homenagem póstuma ao Manuel Campelos, o jornalista Hélder Siva e o meu Pai. Ainda foram homenageados alguns grupos  desportivos e músicos locais e a Rádio Vizela por serviços prestados ao Concelho.

Fiquei muito orgulhoso, principalmente quando o meu Pai recebe a medalha. Houve uma ovação única em pé com aqueles aplausos intermináveis, daqueles que demoram para lá do habitual. Viro-me para trás e vejo os seus amigos da "Pesada" e o Povo de Vizela a prestar a Sua homenagem ao meu Pai. Que mais orgulho um filho pode ter por um Pai reconhecido por dar aos outros o que tem e o que por vezes não tem. 

O meu Pai está ligado à restauração do Concelho de Vizela para sempre. Graças ao Povo ainda recebeu a justa homenagem ainda vivo... e ainda bem. Terminámos com uma entrevista muito simpática na rádio Vizela com o Presidente da Câmara, o jornalista Carlos Magno, o jornalista Hélder Silva e o meu Pai que contou algumas histórias da altura da luta. Um dia cheio de orgulho, que me comoveu várias vezes. Gostei principalmente da felicidade do meu Pai com 83 anos a sentir-se amado pela sua luta ao lado do Povo de Vizela.


António Pedro Moniz, Março 2023

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